Primeira vez - by Clécio Vidal |
A aura feita de esmeraldas no sonho
Um conto de Vida L'Eau'Clauvius
Capítulo 1 -
Terceira vez
Chegar perto
da proximidade dele
É como
levantar voo rumo a uma festa surpresa
Preparada
para celebrar tua vida
Sem que
hajas sido sequer (mal-me-quer?)
Convidado
Por que
recebi o dom da quiromancia?
Dom com
fratura imposta.
Fui obrigado
a ler nas duas mãos esquerdas de Deus o nome dele
Muito
obrigado, Senhor!:
Foi amor à
pré-primeira vista, à segunda, terça,
Sem direito
a sétimo dia
Como conheço
o nome dele pelo rosto
Ou, talvez,
o rosto dele pelo nome
Vivo me
reapaixonando
E recebo o
salário da graça, da desobrigação
Pago por
aquele olhar,
Dividido em
cinco vezes de uma vez só e acompanhada por sua solidão:
Primeira
vez: de uma trava de amargura-alerta
Segunda vez:
de indiferença que se lava as mãos na chama do vulcão mais próximo
Terceira
vez: de um sarcasmo dignificado por espasmos de elegância sutil
Quarta vez: de
uma altivez que largou, por terra, qualquer (bem-me-quer?)
Sentimento
reptil
E fez
instantâneo uso capião
Da pupila de
uma águia, onde se esconde um “Era uma vez”
Quinta vez:
de doçura avistada de longe
Nas terras
de uma timidez antepassada e de uma ranzinzice antefutura
Sexta vez:
(Nem sei
como consigo olhá-lo
Se o olhar
dele meio que apaga meu rosto
E me força a
reescrevê-lo.
E, assim,
sigo livre, mas sem ter conseguido tirar dos ombros,
O peso das
galés)
Depois deste
parêntese, escolho voltar para a quinta vez do teu olhar,
O olhar de
doçura à vista
Quero
colonizar este olhar
Com meu
exército de preces maculadas pela urgência da constância
Preces
lentas e cruéis
Que dividem
o pedido em cinco vezes:
Premier
fois: pela felicidade que se apelida saúde e paz
Deuxième fois:
pela felicidade capaz de fazê-lo livre para pensar em mim
Antes de
dormir, de me visitar durante o sonho
E de estar
ao meu lado depois da realidade
Troisième
fois: pela felicidade que a palavra consegue não imprimir
E o silêncio
ab-ruiu* mão de exprimir
Catrième
fois: felicidade que faz os clichês do amor nascerem calçados
No horizonte
do mistério
Cinquième
fois: felicidade capital
Quinta vez:
* ab-ruir: mais que ruir; mais que à rua ir, mais-que-sorrir.
Capítulo 2:
Quarta vez
Soube hoje
que faltavam somente dois encontros para que ele deixasse de se permitir ser
visto por mim. Foi quando meu coração assumiu como nome próprio seu apelido dor.
Tentei estar
perto dele como ridículo
Como sábio
Como Incapaz
Como anjo
Ao cabo,
percebemos, eu e minhas caravelas,
Que nem um
perito em caminhos, nem uma Dafne triplamente qualificada
Conseguiria
vencer a distância que a proximidade dele impõe.
Antes da
largada, ele consegue estar a vários corpos e almas de vantagem
Com relação
a mim.
Do alto do
primeiro lugar do pódio, ostento o fardo de ouro que ornamenta meu peito
Consegui deixar
até mesmo o tempo em segundo,
Mas é
tentativa vã perder a distância que entre nós se põe a nascer
Mesmo assim,
saber que ele está no mundo, na mesma época que eu,
Saber que
ele está no mundo é como um sonho
De alguém
que dorme com um olho aberto e outro fechado
Ele sacou
aquele aperto de mão
E sua formalidade
me feriu a queima-alma
Capítulo
Trois: Segunda vez
Chegar perto
dele:
Três
impossíveis encadeados sintaticamente
Capítulo
Quatro: Quinta vez
A primeira
vez é-foi-será como um tornado
Que com uma
das mãos rema o passado,
Que, de tão silenciado,
Sempre terá
algo a dizer
E, com a
outra mão, rema o futuro
Num mar que
o tempo ainda não teve tempo de esculpir
E com a
outra mão rema os impossíveis,
Os
inimagináveis, os inconciliáveis: os improibíveis
A segunda
vez:
Capítulo
Cinco: A dernière fois
Contei a uma
amiga como havia sido o sonho
Eu estava
com vergonha
Porque tanto
a narrativa quanto o sonho
Eram de
corassão
Mas, minha
vontade de faltar com a vergonha eu já a conhecia de cor e me salteou.
No sonho,
ele dormia na areia
Como fosse
uma estrela sem teto
Que havia
decidido, às pressas, deitar ao relento
Na
Via-Láctea
A aura do
sono dele dividia-se em minutos, segundos...
Os minutos
eram esmeraldas brutas
Os segundos
esmeraldas despojadas
Os milésimos
esmeraldas de um ardor
Que, talvez,
o imponderável consiga descrever
E a tensão
das superfícies consiga captar
Ele me
despede,
Mas a aura,
os minutos...
Não se
despedem de mim
Ele me
despede em cinco vezes:
Primeira
vez: com a hostilidade que se devota a um soldado do campo adversario
Segunda vez:
com a profilaxia que se devota a um antígeno
Segunda vez:
com a formalidade que se devota a um anfitrião convidado a se retirar
Segunda vez:
com o olhar que, daqui a pouco, passará ao meu lado
E rezará uma
prece para me ignorar
Segunda vez:
E eu quero me desculpar por garimpar a sua aura,
Os minutos,
os segundos, o primeiro: o único
Até achar o “Eu
te amo”,
Que para ele
dividiu-me em infinitos inteiros.
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