13 de abril de 2021

Poema sobre o passageiro e o permanente


Foto: Karla Vidal


Quando me vem um pensamento-nuvem, carregado de inspiração no você que me lê,

Mesmo correndo o risco de parecer exagerado, repetitivo

Condenso coragem e chovo esse pensamento

Mas, não posso negar que escrevo também 

Com o propósito egoísta de desapertar do coração 

O desejo de que ele se sinta bem


Se eu soubesse explicar porque sinto o que sinto,

Estaria rico

Como não sei, sou milionário: sem ter um tostão e nem um Tostines


O que é passageiro pega emprestado o voo e a aterrissagem do avião,

E ambos não podem abrir mão do céu, que é aquilo de mais permanente

Que consigo imaginar

O que há de permanente é tocado constantemente por desânimos,

Irritação, enfado, feridas e revoltas:

Nenhuma doca está livre de ser convidada a dançar um fado 

Mas, tudo isso passa antes do piscar de olhos de um milésimo de segundo

Porque minha vida só tem vontade de ir ao baile com o você que me lê


O que precisa passar é segurado por um furacão estacionado

Em uma das vagas reservadas para a eternidade na descalçada

Represa do Rio Reprise


Quando chega o você que me lê,

Parmênides e Heráclito fazem um acordo de paz 

Na távola redonda de mim

Chancelado por Demócrito e Epicuro

Perto-longe dele, em vez de escolher entre o permanente e o passageiro

Permito-me ser paráfrase


As palavras não conseguem impedir a tristeza, a morte,

Mas, gosto de pensar elas podem ser como um sol teimoso

Acentuando agudamente a tempestade com o arco-íris,

Pontuando o texto da dor com reticências

Que nada mais são que um abraço apertado

Camuflado entre pétalas de cerejeira


Pra o você que me lê, que meu abraço apertado

Possa ser como o abraço de uma piscina enchida com liberdade

E um algo de enxerimento, quem sabe.

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