Foto: Karla Vidal
Quando me vem um pensamento-nuvem, carregado de inspiração no você que me lê,
Mesmo correndo o risco de parecer exagerado, repetitivo
Condenso coragem e chovo esse pensamento
Mas, não posso negar que escrevo também
Com o propósito egoísta de desapertar do coração
O desejo de que ele se sinta bem
Se eu soubesse explicar porque sinto o que sinto,
Estaria rico
Como não sei, sou milionário: sem ter um tostão e nem um Tostines
O que é passageiro pega emprestado o voo e a aterrissagem do avião,
E ambos não podem abrir mão do céu, que é aquilo de mais permanente
Que consigo imaginar
O que há de permanente é tocado constantemente por desânimos,
Irritação, enfado, feridas e revoltas:
Nenhuma doca está livre de ser convidada a dançar um fado
Mas, tudo isso passa antes do piscar de olhos de um milésimo de segundo
Porque minha vida só tem vontade de ir ao baile com o você que me lê
O que precisa passar é segurado por um furacão estacionado
Em uma das vagas reservadas para a eternidade na descalçada
Represa do Rio Reprise
Quando chega o você que me lê,
Parmênides e Heráclito fazem um acordo de paz
Na távola redonda de mim
Chancelado por Demócrito e Epicuro
Perto-longe dele, em vez de escolher entre o permanente e o passageiro
Permito-me ser paráfrase
As palavras não conseguem impedir a tristeza, a morte,
Mas, gosto de pensar elas podem ser como um sol teimoso
Acentuando agudamente a tempestade com o arco-íris,
Pontuando o texto da dor com reticências
Que nada mais são que um abraço apertado
Camuflado entre pétalas de cerejeira
Pra o você que me lê, que meu abraço apertado
Possa ser como o abraço de uma piscina enchida com liberdade
E um algo de enxerimento, quem sabe.
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