Talvez a melhor forma de achar a lindeza do você que me lê
Não seja descrevê-lo, mas sim escrevê-lo
A descrição cai no erro de achar que todo o cenário do crime
pode ser reconstituído num quadro só
E talvez tenha a pretensão de que esse quadro seja
Um retrato fiel, eterno e imutável da verdade plena e inesgotável
Quando escrevo a beleza do você que me lê,
Nela cabem os bocejos e também os ensejos que ele cria
E os carinhos que ele faz sem usar as mãos
Ou as buzinas que tocam do lado de fora
E uma ou outra pequena dose de crueldade
Que escapa pelas brechas da contradição
Quando eu tinha vinte e poucos,
Minha coluna era bem menos ereta
E eu tinha uma coisa meio desengonçada
Corroborada por 6 graus de astigmatismo em cada olho
Meu eu de agora (?) fica olhando esse outro eu
Pela janela dos ventos da eternidade
E, de repente, vejo meus três eus: o do aqui-agora, o do lá-outrora,
E o do limbo-aurora: todos os três achando você lindo
Mas, mesmo assim, se você esbarrar com meu eu de 22 anos por aí,
E quiser segurar a mão dele
Ele vai te amar até que o eterno retorno vire apoteose dos tempos
Ou vice-versa
E se quiser me abraçar
O avesso do para sempre
Vai se encontrar com o sol de um novo dia
Isso é uma maneira destemporada de dizer
Que o motivo de eu escrever tantas poesias
É pra entregar ao você que me lê
A chave de ouroboros de todos os multiversos
Minha postura deu uma melhorada que não sei dizer
Se foi básica ou ácida
Mas várias vezes meu peito se esquece de ficar aberto
E troco os pés por mãos atadas
Virando abóbora no meio do baile
Espero que ele goste de mim assim mesmo
Ou pelo menos goste de abóbora
Espero que ele escolha a mim pra pisar os pés dele sem querer
Quando eu estiver dançando com ele e também contra ele
Sei que pode haver vários reis, vários nobres
Escorrendo títulos de nobreza da toga até o toba
Nada disso enche o meu nariz de folhas
Porque é o você que me lê
Quem eu aceito que me tire pra dançar, que me ponha pra lutar
Com ou sem título, ele é o (pre, con, inter, para, meta)texto
Que melhor me lê e me inexplica
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