16 de setembro de 2020

Poema sobre a tentativa inútil e bela de ancorar no horizonte

 

Foto: Karla Vidal (@karlagvidal)



Escrever mensagens ou poemas é crer, em alguma desmedida,

Que se pode prever o futuro, ler pensamentos,

Tirar segredos do degredo, descontar raivas,

Perder as contas prestes a chegar no infinito

Chorar o melhor riso, rir o melhor choro

Amar e ser correspondido num acordo incomum

Há mar e ser co-perguntado

Orar por todos os poros, pegando emprestado a fé dos ateus,

A liberdade dos à-toa, numa toada que dedilha as cordas da galáxia do Pequeno Príncipe

E resfolega o acordeão desacordado

 

O poeta busca transformar o satélite natural da terra em fogo de arte e ofício

Tem hora marcada com o desconforto

E treina duramente para afiar suas falhas trágicas

 

Nessa tentativa bela e inútil de ancorar no horizonte, por meio da escrita,

Queria ter o elogio decisivo,

Mas só consigo desapontar os relógios

Em vez de dizer e ser salvo, digo e sou alvo 

 

Nessa tentativa inútil de ancorar no horizonte, por meio da escrita,

Queria ter o elogio decisivo,

Mas só consigo desapontar os relógios

 

Que o mar seja a mesa, a terra o bolo e o farol e os veleiros sejam luz com tons de wabi sabi

 

Ao se repetirem seus gestos,

Venço os cansaços da existência

 

Cada camada de sua presença,

Incluindo a proximidade com seu eu cotidiano,

É um presente

 

Que bom que há destino e acaso o bastante

Pra que nossos universos paralelos encontrem um ponto de intersecção

 

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