21 de setembro de 2016

Teoria do mal-entendido


Vovô quando era jovem porque lindo ele sempre foi


No poema anterior, afirmei que uma determinada pessoa era linda como meu avô

Recebi mensagens dizendo que minha cantada tinha saído desafinada
"Quando se fala em avô, logo se pensa numa figura encurvada, enrugada e cansada de guerra"

Na verdade o eu-lírico pensou no meu avô jovem. E ele era lindo e continuou lindo até os 80 anos quando partiu

Mas, o importante na poesia não é o fato em si, mas a comparação. Ao comparar você com meu avô, uma memória tão viva e cara para mim, quis falar do que há de mais puro, do núcleo da chama, onde o respeito tem poder de derreter qualquer muralha de gelo

Jamais te desrespeitaria. Muito menos na poesia, onde o perigo de não amar inexiste. Nem chamaria uma de minhas memória mais queridas para jantar na mesa do sarcasmo

Este desabafo é um prefácio para a teoria do mal-entendido

O mal-entendido surge quando há um desencontro entre as memórias de duas ou mais pessoas ou o choque entre uma memória e um preconceito.

Se uma conversa ou um texto traduz uma memória e o leitor filtra a tradução com uma memória sintonizada numa estação oposta, ocorre o mal-entendido

Por isso, não raro um texto escrito na língua do bom sentimento é filtrado por medos, dúvidas e inseguranças, gerando mal-entendidos

Você é lindo, meu avô era lindo e agora você sabe que dizer que você é lindo é uma maneira de ter a chance de falar da minha afeição por todas as lindas pessoas que deixam suas pegadas no meu caminhar

Na poesia, as palavras são como um Big Bang ao contrário. A palavra amor, por exemplo, sai remando contra a maré do cosmos, juntando fagulhas de estrelas de diferentes constelações. Esse quadro cubista, composto de fagulhas díspares é que se chama metáfora: fagulhas que, um dia, quem sabe, chegarão na hora certa ao encontro marcado com a origem do universo.

Assim, o amor que aparece num poema escrito por mim terá fagulhas de diferentes coisas, situações e pessoas que amo, sem necessariamente se referir a nenhuma delas em particular

Mas, concluindo, quero que chegue a ti este ramalhete de versos, com meu amor cheio de vestígios de constelações: sempre com respeito e sem sarcasmo porque na palavra sarcasmo só cabe o Eu asmo e jamais o Eu amo.


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