24 de abril de 2016

Poética de um recurso de infração

Fonte da imagem: blog Nas Ruas de Maceió


Abaixo, segue a reprodução de um recurso de infração indeferido pela Junta Administrativa de Recursos de Infração de um departamento de trânsito qualquer. Chama atenção o tom poético conferido ao recurso, que tentava justificar a infração cometida com base numa desatenção causada pelo sentimento. Infração Cometida?: Dirigir pela contramão no largo do Amparo.


Recurso de Infração

Sinto que estás tão perto
E a medida desta proximidade é o teu sopro no cangote do meu passado
Desmanchando os nós de todos os meus eus: antes sós, agora sóis

Fiquei molinho. Logo eu que, há pouco, tinha à frente um único futuro tímido e abstinente
Descomposto por peças de lego cor de fora do ar chuviscado

Estive por tanto vestido de folha em branco, um pilar com as preces postas em mão
Por tempo tanto
Silêncio alarmante desamparado
Beijos e abraços indispostos em leilão
E a cada martelada um lance negativo me arrematava
Para me jogar fora em mim mesmo
Deixando-me quase vivo

Estás te achegando, tão inesperado
Que o futuro não tem outra escolha a não ser se tornar uma nova chance
Sedutora coragem adoçada com gotas de preguiça
Estás vindo sonolento e alerta como só os justos conseguem ser
Te aprender a me ensinar tem sido um alento pra minhas guerras cardiovasculares

O Eu te amo não precisa mais ser um crime premeditado
Virou uma infração leve, convertida em advertência suave
As quedas não precisam mais ser perfeitas
Nem as tuas nem as de mim, tampouco as quedas d'água
Porque temos reaprendido a cair e a levantar juntos
Ensinando o céu a ser cúmplice, a terra a ser testemunha e o rio a sorrir

É agradável rever-te firme e oscilante
A volta contigo verte alegria em mim
Me ajuda a ir e vir de carona com uma nova versão de mim mesmo
Estou até disposto a perder o voo pra França
Ano após mês
Até quando durar o infinito que estamos prestes a começar a construir
Tomara...
Mas, pra começar
Deixa o suor da minha bochecha aprender a desaguar no teu peito

E minha falta de ar ensinar a respirar o teu beijo

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