Victor Hugo Fonte da imagem: Sapere.it |
Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano”
Victor Hugo
Victor Hugo tem conversado comigo a respeito de sua tese, que versa sobre o riso. De acordo com a teoria dele, rir diariamente é bom, mas quando o riso se torna hábito, perde o sal.
Outra categoria de riso, o riso constante, é, segundo o poeta francês, atestado de insanidade. Enquanto conversávamos, Hugo se perguntava se o riso velado na postura de um corregedor, lançando um bolão de apostas sobre o resultado do Impeachment da presidente do Brasil, encontra endereço mais adequado na esquina da insanidade ou na rua-sem-saída do cinismo.
"O que vem acontecendo nos arredores do atual momento histórico desafia minha capacidade de rir", confessou o criador d'os Miseráveis. "Mais ainda quando percebo como o riso, historicamente, pode se converter em instrumento de tortura, algo comum no Brasil, lugar onde,, segundo meu amigo Sérgio Buarque de Holanda, estão miscigenadas a cordialidade e a verve ditatorial da herança colonialista", desfechou.
Certamente, talvez, o humor é ferramenta salutar de crítica e desmanche de falsas verdades institucionalizadas e amparadas pela sovinice do “politicamente correto”. O humor mora nas reticências. Está entre a interrogação e a exclamação, mas pende na direção da primeira porque o riso que rima com certezas é um aplauso à farsa: coisa que também vem acontecendo com crescente intensidade no Brasil.
Transformar o riso em ferramenta de antecipação de vereditos ou licença para criminalizar sem provas: tal atitude resume a mistura grotesca que vem ocorrendo entre os risos constante e habitual. E, nisso, até a saborosa excentricidade dos insanos entra em crise, tornando-se insossa insanidade burrocrática.
Não estou querendo me juntar ao coro dos monges conservadores do livro Em Nome da Rosa (Umberto Eco) para tratar o riso como agente indignificador das causas humanas. Só acho triste a tentativa de descapitalizar o riso de sua potência subversiva e transformá-lo em coquetel lúgubre no qual se misturam pré-julgamento, calúnia e arroubos arrogantes de clarividência. É difícil não Temer tal caricatura do riso.
Agradecimentos a Iara Lima, que me apresentou a poesia de Victor Hugo.
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