8 de março de 2016

Por que as mulheres cometem menos infrações de trânsito?


Fonte da imagem: Freepik.com

Por Cláudio Eufrausino 
Analista de trânsito e jornalista


O velho adágio de que a mulher é um perigo quando está dirigindo veículos automotores não deve ser subestimado. Afinal, o “estar em trânsito” representa uma dimensão cada vez mais considerável da chamada vida útil.

Se considerarmos que o cometimento de infrações de trânsito reflete o afastamento de condutas relacionadas a um convívio social pacífico – ligado ao respeito do espaço público – as mulheres têm zelado mais pela civilidade que os homens. Do total de infrações cometidas em 2015 por homens e por mulheres, em Pernambuco (mais de 1,1 milhão), 75% foram cometidas por homens e 25% por mulheres.

Refletir sobre este quadro não é a promoção banal de uma guerra entre sexos.

O trânsito é, ao mesmo tempo metonímia e hipérbole do espaço público, caracterizado, no contexto atual, pelo que Walter Benjamin chama de “amores à última vista”, uma metáfora para descrever uma forma de interação social em que os encontros humanos oscilam rápida e drasticamente entre a intimidade e o anonimato, como se fôssemos capazes de, ao “esbarrar” com os outros, construir laços intensos de amor ou ódio, seguidos pela indiferença ou vice-versa. Os atores do trânsito, incluindo os pedestres, vivenciam continuamente este ciclo entre amor, ódio e indiferença.

É importante trazer à lembrança o ideário da civilidade, combinando os apelos da gentileza e da praticidade, como forma de fazer com que o referido ciclo não se achate, favorecendo deslizamentos entre os extremos do amor e do ódio ou o estacionamento no marco zero da indiferença.

Como se compreenderá num futuro próximo, a grosseria é um dos principais gargalos para que os processos sócio-econômicos tenham andamento (só pra efeito de exemplo, imagine o tempo-dinheiro perdido por conta de uma confusão no trânsito). É uma externalidade (algo que influencia o andamento do processo de forma não facilmente mensurável) que, historicamente, tem sido encarada como questão espiritual ou psíquica, mas que se localiza na fronteira entre ação e psique.

Se repararmos, gentileza ou grosseria são, talvez, as principais pontes de mediação entre os planos individual e coletivo. Quando se é rude acredita-se estar reivindicando o direito de não ter a individualidade anulada perante a do outro ou do grupo, ou se está tentando impor a individualidade perante o outro. No primeiro caso, observa-se a confusão entre criticidade e grosseria (algo bastante comum).

Voltando ao trânsito, a gentileza e o cuidado, nesse cenário, têm sido melhor administrados pelas mulheres, têm sido cultivados com o objetivo de germinar portas de acesso ao convívio social pacífico.

Porém, as mulheres devem estar vigilantes para não deixar a herança da gentileza no trânsito entrar numa rua sem saída. Isso porque se observa um aumento do percentual das infrações cometidas por mulheres. Em 2010, esse percentual era de 22% e, em 2016, já é de quase 26%. Felizmente, percebe-se uma diminuição da porcentagem de infrações cometidas por homens. Em 2010, esse percentual era de 77% e, em 2016, até o momento, está em 74% (trabalhamos com valores aproximados).

Dados:
  • ·    A infração mais cometida em 2015, tanto por homens quanto por mulheres, foi a de transitar com velocidade superior à máxima permitida pela via.
  • ·         No conjunto das mulheres, o número de infrações por excesso de velocidade ultrapassa a casa de 160 mil. 437.396 infrações deste tipo foram cometidas por homens, o que representa uma quantidade 2,7 maior que o das mulheres.
  • ·         O segundo lugar da lista das infrações mais cometidas– a de estacionamento irregular - é igualmente ocupado por homens e mulheres, sendo que a quantidade de infrações cometidas pelo sexo masculino é o dobro daquele cometido pelo sexo feminino.
  • ·         Com relação ao uso de celular ao volante, as infrações cometidas por mulheres ocupam a terceira posição no ranking. Já os homens, estão na sexta posição. Ainda assim, a quantidade deste tipo de infrações cometidas por homens é maior.

Fonte das estatísticas: Departamento Estadual de Trânsito - PE

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