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Por Cláudio Eufrausino
Analista de trânsito e jornalista
O velho adágio de que a mulher é um perigo quando está dirigindo veículos automotores não deve ser subestimado. Afinal, o “estar em trânsito” representa uma dimensão cada vez mais considerável da chamada vida útil.
Se considerarmos que o cometimento de infrações de trânsito
reflete o afastamento de condutas relacionadas a um convívio social pacífico –
ligado ao respeito do espaço público – as mulheres têm zelado mais pela
civilidade que os homens. Do total de infrações cometidas em 2015 por homens e
por mulheres, em Pernambuco (mais de 1,1 milhão), 75% foram cometidas por
homens e 25% por mulheres.
Refletir sobre este quadro não é a promoção banal de uma
guerra entre sexos.
O trânsito é, ao mesmo tempo metonímia e hipérbole do espaço
público, caracterizado, no contexto atual, pelo que Walter Benjamin chama de “amores
à última vista”, uma metáfora para descrever uma forma de interação social em
que os encontros humanos oscilam rápida e drasticamente entre a intimidade e o
anonimato, como se fôssemos capazes de, ao “esbarrar” com os outros, construir
laços intensos de amor ou ódio, seguidos pela indiferença ou vice-versa. Os
atores do trânsito, incluindo os pedestres, vivenciam continuamente este ciclo
entre amor, ódio e indiferença.
É importante trazer à lembrança o ideário da civilidade, combinando
os apelos da gentileza e da praticidade, como forma de fazer com que o referido
ciclo não se achate, favorecendo deslizamentos entre os extremos do amor e do
ódio ou o estacionamento no marco zero da indiferença.
Como se compreenderá num futuro próximo, a grosseria é um
dos principais gargalos para que os processos sócio-econômicos tenham andamento (só pra efeito de exemplo, imagine o tempo-dinheiro perdido por conta de uma confusão no trânsito). É uma
externalidade (algo que influencia o andamento do processo de forma não
facilmente mensurável) que, historicamente, tem sido encarada como questão
espiritual ou psíquica, mas que se localiza na fronteira entre ação e psique.
Se repararmos, gentileza ou grosseria são, talvez, as principais pontes de mediação entre os planos individual e coletivo. Quando se é rude acredita-se estar reivindicando o direito de não ter a individualidade anulada perante a do outro ou do grupo, ou se está tentando impor a individualidade perante o outro. No primeiro caso, observa-se a confusão entre criticidade e grosseria (algo bastante comum).
Se repararmos, gentileza ou grosseria são, talvez, as principais pontes de mediação entre os planos individual e coletivo. Quando se é rude acredita-se estar reivindicando o direito de não ter a individualidade anulada perante a do outro ou do grupo, ou se está tentando impor a individualidade perante o outro. No primeiro caso, observa-se a confusão entre criticidade e grosseria (algo bastante comum).
Voltando ao trânsito, a gentileza e o cuidado, nesse cenário, têm sido
melhor administrados pelas mulheres, têm sido cultivados com o objetivo de germinar portas de acesso
ao convívio social pacífico.
Porém, as mulheres devem estar
vigilantes para não deixar a herança da gentileza no trânsito entrar numa rua
sem saída. Isso porque se observa um aumento do percentual das infrações
cometidas por mulheres. Em 2010, esse percentual era de 22% e, em 2016, já é de
quase 26%. Felizmente, percebe-se uma diminuição da porcentagem de infrações
cometidas por homens. Em 2010, esse percentual era de 77% e, em 2016, até o
momento, está em 74% (trabalhamos com valores aproximados).
Dados:
- · A infração mais cometida em 2015, tanto por homens quanto por mulheres, foi a de transitar com velocidade superior à máxima permitida pela via.
- · No conjunto das mulheres, o número de infrações por excesso de velocidade ultrapassa a casa de 160 mil. 437.396 infrações deste tipo foram cometidas por homens, o que representa uma quantidade 2,7 maior que o das mulheres.
- · O segundo lugar da lista das infrações mais cometidas– a de estacionamento irregular - é igualmente ocupado por homens e mulheres, sendo que a quantidade de infrações cometidas pelo sexo masculino é o dobro daquele cometido pelo sexo feminino.
- · Com relação ao uso de celular ao volante, as infrações cometidas por mulheres ocupam a terceira posição no ranking. Já os homens, estão na sexta posição. Ainda assim, a quantidade deste tipo de infrações cometidas por homens é maior.
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