La valse - CAMILLE CLAUDEL |
Como diria Albert Camus, citado por Boris, meu professor
d"Aliance Française, citado por mim, é possível almejar a verdade e, mesmo
assim, ter opinião.
Realmente, é possível ter opinião, desde que se tenha, de
algum modo, a atenção dos outros. Alguma verdade nascerá das terras cultivadas
pela atenção, por mais impenetrável que pareça o véu da mentira.
A exemplo de todo sentimento que parece existir por si só, a
verdade, recitando Nietzsche, é um pacto, um contrato entre partes e, como
tal, pode ser forjado segundo diferentes parâmetros.
Certamente talvez, o mais comum dos pactos da verdade é criado
quando se oferece em sacrifício o silêncio de alguém ou alguéns nos altares da conveniência, mais conhecida como
unanimidade.
A verdade anda meio tímida, pois, nos tempos de agora, atenção e opinião são especiarias plantadas não no solo das Índias, mas sim no Cabo das Tormentas.
A verdade anda meio tímida, pois, nos tempos de agora, atenção e opinião são especiarias plantadas não no solo das Índias, mas sim no Cabo das Tormentas.
Prestar atenção dói porque quem presta atenção pode achar
que está depositando a própria alma nas mãos de um agiota que executa
a dívida antes de emprestar o dinheiro.
As pessoas discutem a verdade do jornalismo com base no
tempo. A TV é mais veloz na produção da notícia e, por isso, seria menos rigorosa na apuração e, consequentemente, mais falsa.
Se esse critério fosse verdade, a maior fonte de verdade seriam as obras de
arte, que, tantas vezes, gastam anos de profunda reflexão para tazer sua
verdade à luz do dia. Se esse critério
fosse verdade, uma valsa bem dançada seria mais verdadeira que qualquer texto
jornalístico.
O texto jornalístico é um fingimento, na falta e no excesso.
Quando o jornalista tem pouco tempo e pouco espaço, sua mentira (Ops, sua
matéria!) aparece como tentativa de administrar a pressão e a asfixia. Quando o
jornalista tem tempo e espaço de sobra, seu texto se torna uma tentativa de reerguer
a República de Platão, mundo daqueles que, por meio da mente, tentam governar o
mundo, fazendo dele reflexo de ideais imutáveis.
Se o jornalismo bebe do mundo das ideias imutáveis (incluindo
a ideia de que vivemos num mundo inevitavelmente ferido por valores
descartáveis e pela indiferença fútil) e ignora as sombras que habitam o fundo
da caverna da opinião (pública ou privada), a verdade dos “fatos” não passa de de uma descarga de comodismo e neurose, embalados à vácuo pela precipitação e pela burrice.
Como dirá Habermas, o mais próximo da verdade que se pode
chegar é plantar o diálogo sincero, procurando aliar opinião e atenção. E sinceridade
aqui não se trata de uma fórmula piegas. Trata-se do esforço de perceber a luz
das sombras escondidas em baixo do trono das falsas verdades que, tingidas de claridade oca, insistem em
ser, ao mesmo tempo, únicas e plenas.
Adoro seus textos!
ResponderExcluirFico muito grato. Espero que continues gostando. Abraço grande!
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