21 de agosto de 2020

Sobre a correspondência

 

Foto: Cláudio Eufrausino.



Meu eu é um endereço que por mais mais-que-perfeito que seja

Não consegue se deixar encontrar pela correspondência


Se você me deixar te deixar me visitar,

O barulho da chuva será suficiente pra fazer a represa do oceano sangrar

E inundar a mentira da Terra Plana


Depois da classe, me tira da era plena

E me empresta um abraço de correspondência devolvida

Sem reios: só cor descomposta


Quando te encontro, a carta do Rei quebra a etiqueta

E acompanha você pela vida inteira, que escorre pela orla minada dos minutos


Se chegar o tempo em que a pandemia solicite reinventar o beijo

Espero que percebamos o que já sabemos, mas só temos coragem de pressupor:

Que o beijo do futuro já está sendo desenvolvido por nós (d'ois, d'olás, d'aquis, de lás, de sóis...), sem nenhum tipo de amarra

Num laboratório que ora reza, ora elabora, ora treina, ora é rosa, ora é rasante, ora é heresia, éramos trem


Depois das 10 horas, espero que minha presença faça parte de tua contagem regressiva para o sono

E se você me chamar, saio do meu sonho pra te sair do seu pesadelo


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