18 de outubro de 2016

Um 19 de outubro sem impossíveis

Fonte da foto: Programa Salvando Árvores


De madrugada, a tempestade acordou chamando por mim

Doidinha pra me avisar que o destino e o acaso tinham feito um acordo de cavalheiros e deixaram que, neste dia 19 de outubro, todos os meus impossíveis entrassem em recesso e meus sonhos lessem no coração de São Tomé a senha automática de acesso à realidade

Desejei, de imediato, que durante 24h nascêssemos feitos um para o outro. Mas, esquecido que sou, ou, simplesmente, desacostumado a exercer a presunção, esqueci de desejar que não houvesse distância entre nós. Acabei gastando uma hora e meia do milagre pegando dois ônibus pra te encontrar

Mas, valeu a pena. No trajeto, comecei a olhar a linha do tempo do teu Facebook e pedi que a mudez das fotos fosse curada e que os detalhes desabafassem comigo o que sentiam

Numa das fotos, tua barba por fazer entregou que teu olhar tentava esconder a tristeza de não ter sido tirado pra dançar durante o baile de formatura

Mas ouvi risos que rimavam com o nascer do sol e com uma alameda onde se escondia tua coragem secreta de dizer Eu te amo

Fiquei crescente de felicidade  ao te ver com amigos, celebrando a vida. Pedi que tua imagem, numa das fotos, virasse de costas, só pra ver a liberdade raiando da porta dos fundos do teu coração

Mas, me vi submerso de tristeza, ao pensar que, provavelmente, não havia lugar pra mim na sinfonia de emoções que me acenava daquela linha do tempo

Enquanto arquitetava o exílio dos meus impossíveis, percebi que o atalho para tornar sonhos realidade era escravizar o direito à liberdade do outro. E como roubar de mim mesmo o que mais de ti me encantou?  

Você dançando com teus talvezes e inseguranças e aproveitando, enquanto teu medo da opinião alheia olhava para trás, para ficar me paquerando

Fui forçado a desapontar o milagre que me fora concedido. Disse até breve para o réveillon que havia antecipado para 19 de outubro e no qual uma leve discussão deixava o palco para que, meia-noite em ponto, nosso primeiro beijo entrasse em cena

O sonho mais difícil de rebobinar foi um em que o mundo libertava o amor de suas correntes. Mesmo de trás pra frente, aquela cena era inesquecível. Ninguém tinha receio, raiva, pena ou nojo de ver o sol poente escorrendo por entre as brechas de nossas mãos dadas

Alforriado, o milagre que me tinha sido dado de presente sorriu com os olhos e chorou com o sorriso

- Posso pedir que um último sonho se torne realidade?
- ... , respondeu o milagre.
- Quero não desistir de ter coragem de me reencontrar com ele

O milagre me explicou que não poderia atender meu desejo. Ele só era capaz de fazer sonhos se tornarem realidade. E o que eu queria era tornar a realidade um sonho

Antes de eu bater à porta, você perguntou: “Quem é?”

Confundi meu nome com um Eu te amo e tive de aguentar a realidade assando no rubor do meu corpo que, àquela altura, era só bochecha.

Mesmo assim, a campainha tocou, perguntando: “É errado sonhar?”

A porta se abriu e você perguntou: “Posso entrar?”


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