Foto: Karla Vidal |
Fatídico
O olfato cavalga solitário no Velho Leste, é fato
É um tato que, de tão sutil, evanesceu-se
E, sem auxílio de cão, guia ou luz de candeeiro,
Procura o motivo
Procura-se: vivo ou horto
Despediu-se das mãos do jardineiro
Depois que na Roma de todas as flores
Mudaram de endereço todos os aromas
No ardor do parto,
Encoberto de frio,
Meu rio aguado se pergunta seriamente
Onde é a nascente da chave da porta que
Se Abrirá,
surpreendendo meu toque
Com a visita da reciprocidade
Porque a porta fechada da ilusão
Tem sido um presente que não se dá trégua
Mágoa muda, renovando-se
Rinchando na minha mão do ouvido
O cheiro me lembra de que escrever
É só um jeito de ser feito de bobo por todos os amores
Que nunca me amaram
De ser feito de amor por todos os bobos que perderam a
chance de me amar
Perguntaram-me se ando lendo algum tempo atrás
E só agora sou capaz de responder
(antes nunca do que tarde)
Estou compenetrado na tarefa de traduzir o cheiro
Que me acena das entrelinhas do meu amor distante
Mas esse cheiro forte como só a suavidade consegue ser
Desmente o texto original escrito por minhas visões
Que não conseguem ajudar o abraço perdido nos pontos cegos
do meu destino
A achar o aconchego
Um cheiro de dente-de-leão me mordeu, agorinha
E todos os meus olores se perceberam nus
O olfato continua firme no seu intento de revelar
Que os feitiços são, na melhor das hipóteses, inúteis
E, na pior, uma tremenda perda de tempos em tempos
Porque, em breve, penso eu
O cativeiro da solidão será encontrado
E, não será vã a lida de vencer o sequestro do sol
Em diferentes idiomas (dizem as boas línguas)
Posto que, como sabe quem foi feito um para o outro
O beijo é a prova cabal de que há uma eterna aliança
Entre o olfato e o paladar
Como não sou capaz de escrever o cheiro,
Deixo na caixa postal do meu futuro namorado recíproco
O sinal que mais se aproxima do aliviante odor:
...
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