12 de junho de 2016

Ensaio de uma confissão amorosa e a dialética da vergonha alheia

Fonte da imagem: Blog DeCristorevestidos


Assim como no carnaval, o Dia dos Namorados é um momento em que as pessoas se permitem fazer certas coisas não recomendáveis no cotidiano. É um dia que inspira a confissão de amores secretos ou que ainda não se perceberam amores, mas estão na beirinha de perceber, esperando só um empurrãozinho pra cair voando no abismo.

A confissão, linguisticamente falando, admite duas modalidades: a direta e a indireta. Esta última, da qual trataremos nesse texto, trabalha em cima de dois elementos sintáticos: o sujeito desinencial (antigo sujeito oculto) e o objeto direto e indireto (ao mesmo tempo).

Outra característica da modalidade indireta da confissão é tentar curar a timidez do gesto com outro que causa vergonha alheia. E, filosoficamente, a vergonha alheia é definida como a tensão dialética produzida na encruzilhada entre doçura, ridículo e libertação.

O sujeito que confessa busca um gesto que o revele sem o entregar por completo assim como a desinência do verbo expõe o pronome pessoal sem que ele precise aparecer na frase. No caso do verbo “Amas”, por exemplo, a desinência “s” indica se tratar da segunda pessoa, isto é, Tu: Tu me amas ;)

Por sua vez, o objeto da confissão indireta é um objeto ao mesmo tempo direto e indireto. Mais direto que o próprio objeto direto, pois o esforço para disfarçar que uma pessoa é alvo de nossa confissão imprime uma carga de verdade que aumenta consideravelmente as chances de o alvo ser atingido em cheio.

A tentativa de fazer a flecha chegar ao alvo direta e indiretamente, ao mesmo tempo, aumenta drasticamente as chances de ocorrência do fenômeno da vergonha alheia, mas as doses de doçura e libertação liberadas na corrente sanguínea do tempo-espaço são bastante compensatórias.

Eis alguns exemplos de confissões indiretas obtidos por meio de delações premiadas:

“Lembro de você ter dito querer assistir Tartarugas Ninjas. Também tô com vontade de assistir, de mãos dadas contigo”

“Ficou bem essa camisa, mas prefiro você vestido de nudez”

“O luar tá tão você esta noite... Quer dizer, tá tão lindo”

“- Você tá bonito que só ontem” (nesse caso, se houver a réplica do sujeito, é só correr pro abraço):
“ - E hoje?
Hoje, você não tá só bonito. Tá bonito comigo.”

“Sopra esse cisco aqui no meu cangote, por favor”

“Que tal convidar a luz de velas pra jantar com a gente?”

“Você acha que meu namorado ficará com ciúmes quando descobrir que é você?”

“Você pode ir uma ou duas vezes por semana lá em casa me ensinar a plantar Boas-noites?”

“O que faço pra meu sonho deixar de pensar em você?”

“Tem um filme ótimo pra gente deixar de assistir juntos”


“Tua companhia, mesmo à distância, me deixa muito feliz”

"Te vendo assim, deu vontade de chamar teus defeitos pra sair comigo"

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