27 de abril de 2015

Quando o poeta chega à idade de Cristo (versão corrigida)






Joalheiro
Por Clistarco Sepúlveda

Senhor, estou contigo
Certamente, pegarei na insônia
Mas, dormindo ou acordado
Minha companhia conhece de cor a chegada dos teus passos
Que bom poder dormir ao teu lado
Tua angústia banhada de luar
Teu sorriso emoldurado de redil
Senhor da minha vida,
Estou decidido a te doar os frutos do meu ofício de joalheiro amador
Que quer sair por aí feito doido
Lapidando as arestas do mundo inteiro
Faz pouco tempo, quis, arrogantemente,
Lapidar uma alma que julguei ser de esmeraldas brutas
Mas, quando se chega à tua idade, Cristo, alegria
É descobrir que necessário é lapidar a si mesmo
Qual joia serei eu, depois de lapidado este enigma?
Chegar à tua idade, Pai, e optar por resumir a raiva e a perplexidade
E ampliar a tese do carinho
Recebo de bom grado este fardo leve
Estou ficando adulto e bobo
Cada dia com mais vontade de admirar o rosto alheio
Seja o sério
Seja o efusivo
Como se estes rostos fossem o pôr e o nascer do sol
E como admiro também os rostos ambíguos, eclipsados
E tu me permitiste, meu Deus, amar-te, amando os seres humanos
Isso me faz eternamente grato
Pois sei que o milagre mais milagre não é ver o mar se abrir
Mas ver um sorriso se abrindo
Quero garimpar doçura em todo gesto
Sei que isso coloca minha vida em risco
Sempre estará em risco quem não espera o pior
Mas, São Pedro não me deixará entrar no céu,
Se eu não puder tirar um pouco de risco do frasco de minhas memórias

Para passar-lhe nas feridas.

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