Amina - a censura ao bico dos seios foi feita no site da TVI-24 |
“O meu corpo me pertence e não representa a honra de ninguém”.
Por ter estampado esta frase no peito e no Facebook, Amina, uma garota
tunisiana de 19 anos, integrante do movimento Femen (movimento em que
feministas utilizam a nudez como plataforma de protesto), foi condenada à morte
por açoites e apedrejamento.
A denúncia da jovem foi feita por um hacker que substituiu a imagem de Amina, e de uma outra seguidora do Femen, por versículos do
Corão. Ele alterou a
fotografia do perfil da ativista pela de um homem de peito nu, no qual estava escrito "Maomé, o enviado de Alá".
Amina mesma observou que tamanho alarde se deu somente por ter
utilizado o corpo nu como veículo da mensagem. “Se estivesse escrito numa
camiseta, o slogan passaria despercebido. Eu quero que a mensagem seja lida. O corpo
de uma mulher é dela, não do seu pai, seu marido ou do seu irmão”.
O caso Amina aponta para uma realidade que muitos acreditam
pertencer exclusivamente aos ambientes de tradição islâmica. Mas, o
Ocidente, que alardeia, desde a Revolução Francesa, ser porta-voz da liberdade,
da igualdade e da fraternidade, não mantém uma relação tão amistosa com a
liberdade de expressão e, tampouco, com a liberdade corporal.
Gestos são monitorados com secreto requinte e os indícios sinalizados
pela postura e pelos movimentos são, comumente, elevados ao status de símbolo,
como se fossem impressões digitais da essência. Procura-se nos gestos uma
desculpa para lavrar nas pessoas o atestado de uma identidade irrevogável que, trajando
a sede pela tirania, segue desfilando na passarela da tolice.
Hitler afirmava que começou a nutrir repúdio pelos judeus
depois de observar um grupo deles conversando e analisar seus gestos e suas
roupas. Esta torpe desculpa é
reproduzida por muitos de nós cotidianamente e nos leva a injetar pequenas e
contínuas doses de pena de morte nos que não preenchem os padrões que nós, isto
é, a Coca-Cola, a Mac, a Animale, a Chanel, a Dior..., “elegemos” antes do
primeiro turno. E ditadura pior é a tendência atual de migrar a obsessão pela
padronização do genérico para o detalhe. Surge o questionamento de como, diante da informação profusa e
mutante, encontrar a combinação “correta” de detalhes que tenta fazer do mais
“infinito particular” um padrão.
A época atual está mostrando que a nudez não significa tanto
o tirar a roupa. Pois a nudez do nu já se tornou a pesada vestimenta do convite
obrigatório à sensualidade. A nudez hoje está no desafio aos julgamentos
”silenciosos”, no enfrentamento da tirania do gesto. Esta é a nudez que, em Amina, foi condenada à morte.
Até mesmo no seio do Femen, a nudez tem sido castigada. Ex-integrante
do Movimento, a brasileira Bruna Themis
conta que grupo rejeita a participação de mulheres “acima do peso”.
Outra Amina que também teve a "nudez" ameaçada de morte foi a nigeriana Amina Lawal Kurami. Ela foi acusada de adultério e de conceber fora do casamento, tendo sido condenada à pena capital de linchamento. Isso com base numa interpretação extremista de textos da tradição islâmica. Felizmente, em 2003, com auxílio do clamor internacional, a sentença foi revogada.
A fotógrafa americana, Haley Morris-Cafiero faz autorretratos não para fotografar a si mesma, mas para registrar o preconceito das pessoas ao redor, revelando a reação pública ao que parece fora do padrão. O resultado é o projeto Wait Watchers, que pode ser visto aqui.
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