Alemanha relembra 50 anos do Muro de Berlim - Agence France Press (AFP) |
Última poesia
Jose Luis Paredis
Última poesia: não consigo terminar a lista dos convidados
para
Velar a festa que clandestinamente está sendo montada no
hangar
Onde não pousa o navio da despedida sem que decole o navio
da esperança
En garde! Grita o sol, de lá do jardim, embainhando sua espada
E dando de presente à última poesia o carisma, o mar do
desarmamento
Na festa de despedida da poesia,
O sol sente-se honrado ao ser convidado a se retirar,
Ao ser esquecido do lado de dentro do mundo
A última música
Esqueceu-se da senha e todos os silêncios choraram com
aplausos
Quando, teve de ir embora:
Sua partitura fez chegar aos ouvidos da última poesia
O filme interminável da primeira vez
Nesse segundo, uma porta inexistente se abriu
E os abraços roubados pela violência, pelo medo e pela
vergonha
Foram devolvidos em dobro, em triplo:
E nunca houve abraços tão únicos e singulares como aqueles
A última morte foi um cavalheiro e cedeu passagem
Para que a última primavera entrasse na frente
E desmentisse todos os ultimatos
Na recepção da última poesia, parecia só haver lugar para a
morte e os invisíveis
Mas, quando escolhi vestir teus abraços e mergulhar com
nudez e tudo no teu olhar
O último suspiro da poesia hesitou e a seus pés brotou a
liberdade perpétua
E o nome de quem amo
O universo tentou enganar a métrica e fazer amor com a
última poesia
Antes, deu-lhe de presente o arrependimento de Deus
E quando Deus escolhe se arrepender, acontece o milagre,
Tornando as chaves de ouro pálida ferrugem
E só conheço duas coisas que rimam com o milagre: o recomeço
e o nome de quem amo
O nome de quem amo: um rosto lindo de criança desde sempre
abençoada
O nome de quem amo: nom des murs que, pour amour, escolhem
cair e vestir-se de homens de mãos dadas
O nome de quem amo: aeroporto que toma banho de sol nascente
O nome de quem amo: paz da minha loucura
O nome de quem amo: timidez que convence as bombas a
desexplodirem, resposta que sopra para ensinar o vento a ter endereço certo
Nome de Alguém
Epílogo
Chegou então a última saudade: que chega ao fim só para
descobrir que não há senão saudade primeira
E esta verdade: fez cair por céu o postulado do ponto.
...
A última poesia
Carlos Drummond de Andrade
A última poesia Além da Terra, além do Céu,
no trampolim do sem-fim das estrelas,
no rastro dos astros,
na magnólia das nebulosas.
Além, muito além do sistema solar,
até onde alcançam o pensamento e o coração,
vamos!
vamos conjugar
o verbo fundamental essencial,
o verbo transcendente, acima das gramáticas
e do medo e da moeda e da política,
o verbo sempreamar,
o verbo pluriamar,
razão de ser e de viver.
A última poesia
Carlos Drummond de Andrade
A última poesia Além da Terra, além do Céu,
no trampolim do sem-fim das estrelas,
no rastro dos astros,
na magnólia das nebulosas.
Além, muito além do sistema solar,
até onde alcançam o pensamento e o coração,
vamos!
vamos conjugar
o verbo fundamental essencial,
o verbo transcendente, acima das gramáticas
e do medo e da moeda e da política,
o verbo sempreamar,
o verbo pluriamar,
razão de ser e de viver.
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