29 de janeiro de 2013

Orgulho e Preconceito comemora 200 anos e convida para a festa Bridget Jones e zumbis



Sara Singh's cover for Splinter's Classic Lines edition


127 anos após ser lançado na Inglaterra, o romance Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, teve sua tradução arquitetada para o Português por Lúcio Costa: vinte anos antes da inauguração de Brasília. Foi a primeira obra da coleção Fogos Cruzados, representando o auge da Livraria José Olympio e reunindo grandes clássicos da literatura mundial como Moby Dick, Deuses Riem e Sangue e Volúpia.

Os personagens principais do livro são a sagaz Elizabeth Bennet, dona da atraente falha de caráter de julgar as pessoas com base em impressões colhidas no precipício, e Fitzwilliam Darcy, reservado e de expressões graves causticadas por uma dose de charmosa arrogância.

Em seu aniversário de duzentos anos, a “fórmula” de Orgulho e Preconceito, com mais de vinte milhões de cópias vendidas, ganhou procuração para ingressar no rol dos arquétipos. Prova disso é o fato de o livro não ter se contentado com as fronteiras do romance, como atesta a releitura Orgulho e Preconceito e Zumbis, que Seth Grahame-Smith (mesmo autor de Abraham Lincoln, caçador de vampiros ) admite ter escrito em co-autoria com Jane Austen.

No universo ficcional de Hollywood e das telenovelas das Américas, em particular do Brasil, tornou-se hábito construir as relações amorosas com base na relação entre Elizabeth e Darcy. Trata-se da ideia do amor que vence a ojeriza inicial gerada pelo conflito entre personalidades aparentemente antagônicas, desafiando a premissa de que “a primeira impressão é a que fica”.

Em Orgulho e Preconceito, o amor é esculpido como uma entidade que pressiona e desafia, como o esforço cativante de desbravar as taças amargas da vida a dois em busca dos fios perdidos de doce de leite, que fazem o último gole valer mais do que um centeal inteiro.

Orgulho e Preconceito tem predecessores ilustres como o mito de Cupido e Psique, depois de um intercâmbio de motivações, visto que o desprezo que Elizabeth ostenta por Darcy é herdado de Cupido, enquanto o ímpeto, a personagem herda de Psique.

Já Darcy herdou de Cupido a vocação para amar em silêncio, agindo secretamente para salvar a amada das armadilhas da vida em sociedade. Porém, toma de Psiquê o gosto por insistir em converter em reticências o aparente ponto final do amor não correspondido.

Diretamente ou não, as Ligações Perigosas (1782), de Choderlos de Laclos, dialoga com o romance de Austen. É o contraponto desalentado do amor que desafia convenções sociais em nome da espontaneidade. Na obra de Laclos, a ressurreição do Bom Selvagem não passa de uma falsa pista do Paraíso Perdido e que, ao cabo, revela-se senha para o Inferno. Em Jane Austen, o Bom Selvagem renasce adubado pelo ardor travoso do encontro romântico entre o urbano e provinciano Darcy e a rural e cosmopolita Elizabeth. Mas, contrariamente a Ligações Perigosas, o tempo é generoso e amarra as pontas soltas que desatam os nós do orgulho e do preconceito. Neste romance, as sereias desafinam, para que Ulisses – Darcy - se arrisque a dar, mesmo que timidamente, um mergulho na doçura da contradição humana. E depois disso, descobrir aturdido, mas encantado, que, na realidade, Circe e Penélope são uma só pessoa: Elizabeth.

Modernamente, Elizabeth e Darcy reencarnaram nos personagens Bridgte Jones e Marc Darcy, de O Diário de Bridgte Jones, escrito por Helen Fielding (curioso saber que Colin Firth interpretou o Darcy de Jane Austen em 1995, numa versão filmada para o canal BBC). Certamente talvez, Jones, no seu jeito desmantelado, acha espaço para que a espirituosidade de Elizabeth brote tímida, porém inebriante. Já ambos os Darcy – o de Austen e o de Fielding- possuem em comum a tática de disfarçar de represa e sisudez o grande desejo de amar e de se doar.

Conheça algumas capas de edições de Orgulho e Preconceito aqui.

Colin Firth como Darcy, em Orgulho e Preconceito

3 comentários:

  1. Colin Firth é Mr. Darcy por excelência, mas o sucessor Matthew Macfadyen não deixou a desejar em nada!

    Pra variar é sempre um prazer ler teus textos, tua capacidade de fazer conexão entre os temas é impressionante. Obrigada por me fazer querer ler Orgulho e Preconceito pela 87659873592783645 vez :)

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    1. Também acho ;) Estou na pendência de visitar outro livro dela: "Razão e sentimento" e ver se aprendo e tomo logo o partido da razão...

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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