9 de novembro de 2012

"Esse cara sou eu": Deixem em paz a pieguice de Roberto Carlos!



Roberto Carlos

De início, ri muito quando li, no Facebook, uma análise psicológica que foi feita do perfil do “cara” da nova música de Roberto Carlos: “Esse cara sou eu”. Mas, o riso fácil é um tipo de diagnóstico que comumente requer uma segunda opinião.

A análise psicológica, reproduzida ao fim da postagem, afirma que por trás do perfil romântico que Roberto Carlos desenha na canção mora uma espécie de maníaco obsessivo de quem se deve fugir.

Pelos mil nomes de Nossa Senhora! Tudo bem não gostar da música, achar que ela é piegas. Mas, reflitamos sobre a corrente mania das pessoas de querer encontrar em qualquer ato, palavra ou omissão um indício de que o Esquadrão da Moda deve se colocar a postos com camisas-de-força.

Machado de Assis escreveu o conto O Alienista em 1882, mas nunca ele esteve tão atual. O conto fala sobre como o impulso de procurar a loucura nos mínimos gestos dos outros pode levar o próprio dono deste impulso à loucura.

Mas, vamos à poesia de Roberto Carlos. Como poesia, ela é o que os teóricos da literatura e das artes chamam de ato de fingir. Fingir que envolve a dissimulação, mas também a doçura, a alegria. È um fingir em que o artista se esforça para reescrever a realidade e não para reproduzi-la. E mesmo que ele queira iludir-se de que é capaz de reproduzir a realidade com base na evidência, não será capaz de reproduzir a unicidade dos momentos, que pertence também ao terreno do invisível.

É o fingimento poético que permite experimentarmos a dor, a mentira, o ódio sem que estes sentimentos precisem se tornar fatos.

É o que acontece na poesia de Roberto Carlos. Ele pode não estar amando ninguém, mas, no texto poético, ele ama um alguém que é feito por todos os outros alguéns que ele amou ou por nenhum deles em particular.

Tudo bem querermos ser reservados, introspectivos e fazer do “I wanna be alone” um estilo de vida. Mas, é um pouco irritante a ideia de pensar que não podemos olhar para alguém ou elogiar ou tocar o ombro da pessoa sem que sejamos confundidos com um Drácula de Bram Stoker que quer tomar posse da alma e do sangue alheios.

Aviso aos navegantes da racionalidade tacanha e aos ignorantes que tomam overdoses de senso comum a bordo da nave do sentido literal : Esse cara sou eu é composta de hipérboles. Não me vão fazer, como já ouvi num programa de rádio, de comentar sobre a suposta insensatez de Roberto Carlos ao escrever “Eu quero ter um milhão de amigos”. Pelo lado áureo da Força: Ter um milhão de amigos é uma metáfora!

Ninguém “conta os segundos” quando alguém demora
Alguém que chama o outro no meio da noite pra dizer que o ama, fará isso só numa ocasião especial em que quer ser poético. Não se trata de um transtorno obsessivo compulsivo (TOC).

E, saibam os arautos da racionalidade, que toda pessoa tem algum grau de TOC. Paremos com o mau-costume de sair por aí acusando os outros de psicose. É feio, galera!  Além de tudo, o povo não sabe o que é psicose e fica por aí dizendo que alguém é psicótico porque contratou o carrinho de som da telemensagem. Essa pessoa é no máximo inconveniente, porque um psicopata, como é sabido por quem bem o sabe, não esboça emoções.

Deixemos Roberto Carlos e o cara que ele é em paz  #pelamordedeus. E, façamos um curso de reciclagem poética, para deixarmos de ocultar sob o véu da racionalidade a paranóia contemporânea de nos colocarmos na vibe de chapeuzinhos vermelhos e acharmos que o carinho e a poesia – por mais escassos que estejam no mercado – são armadilhas de lobos-maus e obsessores.


8 comentários:

  1. REALMENTE TENHO Q CONCORDAR C O Q LI...POIS CONVERSEI SOBRE ESTE "PERFIL PSICOLÓGICO" POSTADO POR ELA E DISCORDEI!!! INCLUSIVE NÃO CITA A FONTE!!! O REI VAI VENDER MAIS AINDA DEVIDO A POLÊMICA!!! KKKKKKKKKKK

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É verdade. É o que vem sendo chamado de estratégia publicitária do fogo-amigo. Muito obrigado pelo comentário. Abraço!

      Excluir
  2. Esses psicólogos se acham os donos da verdade. Gostam de apontar defeitos a vida alheia, para que todos pensem que têm problemas... para aí precisarem de fazer terapia e dar dinheiro para esses profissionais. Qualquer pessoa mentalmente saudável que for a um psicólogo, eles vão tentar fazer uma pessoa crer que têm problemas... sendo na realidade, tive experiência nisso, conheci muitos psicólogos, todos esses eram metidos a bam-bans... mas a vida pessoal de todos eram mal-resolvidas e cheias de comflitos - muito maiores que grande parte dos clientes deles. Até o sentimento de paixão e desejo de estar ao lado da pessoa amada esses caras criticam. Quer dizer que se eu fico agoniado para chegar o final de semana para ver minha namorada sou um louco violênto? Querem racionalizar até o amor entre um homem e uma mulher... e tem coisas que foram feitas para serem vividas, e não racionalizadas...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É um dos temperos do relacionamento ficar agoniado para rever quem amamos. Nesse ponto, o reencontro é a melhor terapia. Abraço grande e brigadão pelo comentário!

      Excluir
  3. Considero uma simples brincadeira com o cara da música e não com o autor da mesma. Todos nós temos nossas neuroses e o RC não escapa, maqs que a análise é divertida, com certeza é. Bjs.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É mesmo uma brincadeira. Mas, aproveitei o mote pra falar sobre a paranoia coletiva que tem hostilizado gestos românticos como se fossem indícios de distúrbios psíquicos. Na verdade, quis homenagear Roberto Carlos e o romantismo, com uma pitada de polêmica. Bjo!

      Excluir
  4. ufa! Até que enfim! Quando meu marido me mandou isso no face fiquei, (imaginem) PPPP da vida! Que coisa mais insensata e arrogante! Pra mim, quem pensou nisso é um sozinho, um sem amor, um chifr...sabe... Realmente concordo que pensar assim é mesmo uma paranóia..ninguém fica assim o tempo, são momentos, de repente de uma vida inteira, expressados numa canção...os loucos, ou transtornados, são frios, não sentem essas coisas...então quem tem TOC é quem pensa assim! Perder tempo de analisar sentimento e ações que são as vezes tão importantes e extremamente essenciais para uma relacionamento bom e saudável é pra mim um desocupado! E uma mulher não iria nunca perder tempo de pensar por este viés! Portanto, sinto dizer, mas este continua sendo um pensamento machista, calculista e arrogante...CONTINUEM PROCURANDO " O CARA" MENINAS! NÃO DESANIMEM NÃO! Antes estes loucos e grudentos do que fúteis, evasivos e frios...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito obrigado, Rosefly, pelo comentário empolgante e sincero. Grande abraço!

      Excluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...