Fonte: Instituto de Pesquisas Projeciológicas e Bioenergéticas |
Ontem, num resto de madrugada implícita de eternidade espontânea, conversava com uma grande amiga de nome russo, cujas letras só consigo escrever com ajuda da tecla CTRL.
Анушка Ваз e eu lembrávamos de como a música ajuda aquele que está aprendendo um novo idioma. E descobrimo-nos ambos devedores de um professor de italiano que, sem se dar conta, deve ter ensinado italiano a muitas pessoas. Renato Russo, com seu disco Equilíbrio Distante, de 1995, doa-nos o que ele chama de Venti del cuore (ventos do coração).
Esses ventos existem de fato como têm revelado imagens feitas pelo sempre mais recente telescópio inventado: o Poiesis. E têm poder cicatrizador. E sabe-se que uma nova língua é uma ferida aberta rumo a uma cicatrização que nunca ocorrerá em plenitude, visto haver entre os idiomas um abismo tradutório intransponível como o que separa os vivos e os mortos. Mas, mesmo assim, conseguem-se bons índices de cicatrização.
Entre as referidas feridas, estão a memória rivalizante do idioma natal e o medo de andar sobre a corda bamba que se estende sobre o abismo que separa os dois idiomas. Esta corda é feita com o mesmo tipo de material do fio de prata que prende a alma ao corpo e que, nas viagens astrais e nos sonhos, permite que viajemos pelo universo, até um determinado limite...
Aprender nova língua é conviver com o abismo e pra isso não vale sonegar o desequilíbrio dos passos na corda bamba. Os ventos do coração ajudam-nos a dar coreografia aos desequilíbrios, fazendo deles espécie de balé ou outro tipo de dança, conforme a paixão com que estes ventos sopram.
Perguntem-me de que são feitos estes ventos e eu, sem tê-los visto, mas os tendo sentido, precipito-me em dizer que são feitos do idioma da música, a quem foi concedido o direito de, sem palavras, vencer os abismos tradutórios plantados pela queda da Torre de Babel.
Mas, não se pode confiar completamente nos ventos, nem na música. Os dois são como os anjos do poema de Renato Russo. Eles passam por nós, nos tocam com a memória do paraíso, onde havia uma língua clara e universal, mas, a seguir, nos abandonam com a fome de retorno ao paraíso perdido e a fome de palavras, decorrente da afasia posterior aos raros e intensos contatos com a eternidade.
A explicação dada pelas correntes neopentencostais ao dom de falar em línguas estranhas resume bem o proósito de aprender um novo idioma. Não aprendemos nova língua pra dizer o que poderíamos dizer com nossa língua materna. Aprendemos porque as línguas estranhas ou estrangeiras nos permitem falar de algo que nossa linguagem familiar não nos permite.
No dom das línguas (um dos dons do Espírito Santo), contudo, esta necessidade atinge o clímax, ligando-se a um momento em que se escolhe uma língua impossível de ser traduzida pela linguagem humana para dar conta dos mistérios que a mesma linguagem humana não consegue abraçar.
Assim, aprender um novo idioma é o esforço de apreender o mistério de nosso idioma materno. Perseguir este mistério é seguir os rastros deixados pelo que, tomando emprestado a expressão desenhada por Renato Russo, chamaria de "fantasmas do amor".
E i venti del cuore soffiano
e gli angeli poi ci abbandonano
con la voglia di voci e di persone
seguendo fantasmi d'amore
i nostri fantasmi d'amore,
seguendo fantasmi d'amore
i nostri fantasmi d'amore,
Quando i venti del cuore soffiano
seguiamo fantasmi d'amore
i nostri fantasmi d'amore.
Quando i venti del cuore soffiano
seguiamo fantasmi d'amore
i nostri fantasmi d'amore.
seguiamo fantasmi d'amore
i nostri fantasmi d'amore.
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