Marina Colasanti - Fonte: Diário de Pernambuco |
As pessoas se alvoroçaram, mas ninguém correu nem gritou. Todos saíam e, como manda a boa educação, paravam para dar licença a outros que também buscavam a saída.
No hall do Multiplex, não havia fumaça e, rapidamente, pessoas - sem temer pela pele em que habitavam - voltavam à sala de cinema. Estava tão perto o fim do filme de Almodóvar...
Ninguém se sentou. Ficavam todos de pé nos corredores laterais:. O bom senso... Este havia permanecido sentado, ignorando o alerta de incêndio.
A espera pelo final do filme fez as pessoas se esquecerem do cheiro de carbono. O medo estava em suspense até que se desligou a tela e todos se foram. O final do filme teve seu recomeço marcado para outro dia, uma outra alvorada qualquer, desde que se respeitando o prazo de validade do ingresso: de sete dias: o mesmo prazo de validade da criação do mundo?
As pessoas... Ligadas no fim do filme e esquecidas do cheiro de carbono. Pra que se importar com incêndios e com cheiro de carbono se o aquecimento do planeta é irreversível? Esta pergunta me lembrou uma que, recentemente, fiz à escritora Marina Colasanti, às margens do cais de Santa Rita, durante a Mostra Sesc de Literatura Contemporânea, em Recife.
Perguntei a ela qual era a diferença de se ter sonhos no passado e hoje. Ela respondeu que hoje, como em tempos de guerra, a esperança parecia estar em suspense, pois ficava difícil fazer planos e ter esperança quando o mundo tem um incêndio à porta.
"Os jovens de antes tinham como ideal tornar efetivo um projeto de vida. Os de hoje querem o sucesso imediato, independentemente de projetos", dizia a escritora.
O realismo de Marina Colasanti estava longe da amargura. Como ela indiretamente afirmou, evitar a amargura é a forma mais realista de se enfrentar os tempos de guerra, os tempos em que a esperança fica sob suspeita. E, como ela mesma disse: "As guerras sempre terminam".
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