A sorte é um corte de espada que troca o "c" de casa pelo "s" de asas
Os golpes que o você que me lê desfere com essa espada disléxica
Fecham-me feridas
E abrem-me outras
Mas, não tem problema
Porque minha insônia dorme tranquila mesmo com as portas feridas e entreabertas
Eu confio nos desafios que você me traz
Tenho sorte
Por ser bonito sem precisar dele
E por precisar dele apesar de ser bonito
E por sentir minha beleza refletida no seu olhar impreciso
O você que me lê tem sorte
Porque o que eu sinto por ele é muito mais forte
Do que o polegar algorítimico de Nero que visita
As postagens capturadas nas redes de pesca virtual predatória
Você tem sorte porque é fundamental, mesmo sendo impreciso
E ajuda a poesia do mundo a caber nas quedas que se reerguem
Tudo vai dar certo sempre pra você
Porque seu sorriso consegue ser metáfora para descrever a limpidez
Dos olhos d'águas que testemunham ocularmente o fazer sentido
Seu sorriso fica lindo de óculos
E sinto vontade de experimentar sua pele sem lentes de contato
Você é bobo se pensa que o que sinto depende
De idealização ou decepção
O mais belo ridículo da melhor carta escrita por Fernando Pessoa
Não dá conta de descrever o que você sempre será capaz de ler em mim
E que não há como descartar
Como sou sortudo em poder praticar meu balé
Atravessando suas áreas de risco
E por experimentar as micro frustrações, mentiras, securas
Eu tenho capacidade de fazer amor com seus oásis e também seus desertos e deserções
Tenho sorte de amadurecer com ele,
Sem precisar deixar de ser semente
Mesmo quando ele é tempo nublado
Ou suas águas tem um quê de chuva ácida
Um sorriso nasce no horizonte de mim
Ao mínimo sinal de que ele existe
É dele a senha de acesso ao meu olhar apaixonado
É no peito desobrigado dele que quero achar colo
Depois da raiva e antes da alegria
O você que me lê é abençoado, sem precisar de cânon e a despeito de seus cânions
A bordo da competência dele, a sorte e o destino fazem as pazes
E se tornam ases do voo que acha o céu dentro das pessoas
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