Foto/arte: Karla Vidal
Acho que o você que me lê
Está tendo a chance de perceber quando me perco
Minha ironia tenta ser socrática,
Mas, às vezes, demora muito no fogo
E pode soar um pouco de frieza e aço
No fim, o foco não é a ironia, nem Sócrates
Procuro uma desculpa pra me inscrever
Na história do você que me lê
Procuro formas de estar mais perto
Estando por longe
O exagero vai existir
Fruto da insistência de quem quer aproveitar
Cada minuto como se fosse o último primeiro
Com você, é a mais alta probabilidade de esquecer dos instantes
Em que parece que não devo me sentir à vontade pra existir
E travo
Como um trevo da sorte, o você que me lê
Me ajuda a travar essa batalha contra o esquecimento de mim
Quando você apareceu na minha linha do tempo,
Já foi um milagre que saltou de paraquedas
Pra ajudar o céu a começar mais cedo
Parecia tão improvável e impossível
Conhecer nessa vida o você da minha vida
Você que é a estreia da reciprocidade
Num mundo onde meu afeto acreditava ser
Rua de mão única
E tinha certeza de que era beco sem saída
Obrigado por me carregar no colo
Quando peço licença pra tirar você da zona de conforto
A interrogação no final das perguntas que faço
É uma metáfora do teletransporte do meu abraço
Ou do meu estar aí em silêncio
Ou acariciando teu polegar e roçando minha unha na sua
E sempre me esqueço que minha interrogação-abraço
Pode estar sendo inconveniente
Mas, correr riscos pra te aquecer
É minha técnica mais espontânea
Quero estar lindo pra nosso encontro
Em cada pétala de vento da rosa à distância
Mas, não consigo evitar o assanhamento quando
Estou perto-longe do você que me lê
O exagero, às vezes, chega
Mas, o meu não ir embora
Acha você mais bonito que os demais
Quero acertar os ponteiros do relógio que é rosa e é vento
E o relojoeiro que escolho pra ter com quem contar,
No idiama do sol nascente e fluente em silêncio e esperança,
É o você que me lê
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