23 de julho de 2014

Planeta dos Macacos e o confronto entre o Paraíso e o Apocalipse



O filme Planeta dos Macacos, o Confronto, une as duas beiradas mais ancestrais do imaginário humano: a nostalgia do paraíso e o medo do Apocalipse. Mas, é possível também abordar estas beiradas de outra forma: o medo das origens e a esperança do Fim.

Qualquer destas beiradas nos conduz a um enigma que intermedeia a relação entre Paraíso e Apocalipse (entre origem e fim): quem é o grande culpado?: a barbárie ou a civilização?

Para Rousseau, como é sabido por quem bem o sabe, a bondade se confunde com a selvageria, isto é, ser bom significa necessariamente estar imune à civilização. Planeta dos Macacos questiona este ideal, ao apresentar um contexto em que mesmo sendo contaminados pela “racionalidade”, os animais conseguem desenvolver uma aspiração comum pelo convívio pacífico e pela preservação recíproca.

Apesar de saberem comunicar-se por meio de palavras, os macacos humanizados optam pela linguagem do gesto. A fala é reservada exclusivamente para a comunicação com estrangeiros (leia-se os humanos) e a escrita para a transmissão da sabedoria comunal, resumida a lemas como “Macaco não mata macaco”.

O filme coloca lado a lado a lenda do Eldorado, lugar de inocência paradisíaca, habitado pelos macacos, e uma terra devastada pela doença e pela guerra, onde vivem humanos que sobreviveram ao Apocalipse. 

O confronto entre humanos e macacos parece, em certos momentos, ser pautado não pela diferença entre estes grupos, mas sim pela disputa entre Eldorado e Apocalipse por um espaço comum: como se os conflitos e as guerras não fossem só fruto de sentimentos já conhecidos como ambição e ódio e fossem também resultado de uma inveja recíproca, um estranho magnetismo que faz os moradores do Eldorado serem irresistivelmente atraídos pelo desejo de experimentar o Apocalipse e as vítimas do Apocalipse pelo desejo de retornar ao Paraíso. Isso levando-se em conta que o Paraíso, na maioria das vezes, é a tentativa desesperada de devolver à memória os nuances, cheiros e texturas roubados pelo futuro.

Na história da filosofia sobre o conflito entre barbárie e civilização, Thomas Hobbes vai dizer que a civilidade foi benéfica (contrariando Rousseau) pois, em “estado natural”, o homem tende a ser “lobo do próprio homem”.  Em Planeta dos Macacos, esta máxima de Hobbes é enxertada pela contradição e parece proliferar-se em alternativas como: “O macaco é o lobo do próprio homem” ou o “O homem é o lobo do próprio macaco” ou “O macaco é o homem do próprio macaco” ou ainda “O homem é o macaco do próprio homem”.

Não deixe de ler também A origem de O Planeta dos Macacos - o elo perdido e suacontaminação pelo vírus do caráter humano




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...