16 de abril de 2014

Reflexões despretensiosas sobre o futuro do pretérito


Fonte: Stolpyka.pl

Os filósofos brigam há milhares de milênios para decidir se o passado
É algo que realmente passou
Ou algo que continua passando por nós
E não sei se somos como serpentes, que trocam de folhagem, mas não trocam de veneno
Ou se somos como árvores cujo coração é formado por incontáveis passados concêntricos
E não quero pensar que o núcleo de todas as circunferências é uma parada cardíaca

Passem os boa-noites não correspondidos
Os abraços devolvidos pelos Correios, pelos co-reios
Os abraços réus da distância que não passa
Do presente que algumas vezes é tão duro que faz de nós mesmos um passado perdido no tempo
Passe logo esse futuro do pretérito que se esconde em nossas ações para rir de nós
Confessaria, mas não confessei
Calaria, mas não calei
Amaria, mais e mais
Sorriria: dois risos presos num mesmo verbo

Sinto que tantos mal-assombros passam por mim e se despedem
E agoras cheios de “o suficiente” me saúdam em todas as estações que a esperança
Escreve ao longo das linhas tortas da mão de Deus
Sinto muito que não mais porque sentir tanto pelo que não vale a pena, nem o pássaro, nem o anjo e muito menos o voo
E os dois olhares que um rosto lindo me traz ficam em silêncio
Respeitando a chance de minha cegueira iluminar-se, ao beber do olhar-me que brota

Com radiante refrescância das pazes que estou aprendendo a fazer comigo mesmo e comigo outro

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