Mont Blanc: Porque o amor existe. Foto by: Cláudio Eufrausino e Paulo Ricardo Almeida (autor da foto que está dentro da foto) |
Minha bagagem, a cada esquina de Roma, reclamava por ter de
carregar o peso do meu corpo e o mundo reclamava incessantemente por ter de sustentar
o peso da leveza do meu ser (meu?). E,
como é difícil permanecer vívido o tempo todo em meio aos tantos vivos que
assombram os fantasmas do Velho Continente! Mas, as sombras e os fantasmas
ficam amarrados aos pés da cruz quando se adentra as portas do Moulin Rouge.
Foi a primeira vez que usei a tal da “segunda pele” (a de
tecido). Ela custou 35 reais, aproximadamente. Ao decolar, estava decidido que
minha segunda pele (minha?) conseguiria abrir mão do calor humano. Afinal,
haviam sido tantos desapontamentos nos meses anteriores, que decidi fazer aquela viagem só na companhia
de mim mesmo.
Mas, quem promete a si mesmo viajar ao continente europeu só,
mente, pois, jurar bastar-se a si mesmo é, de saída, perjúrio e a Europa, além
de aguardar ansiosa pelos Euros dos países emergentes, anseia por jogar fora o
apelido de Xenófoba e pavimentar suas cicatrizes com as feridas e as radiâncias
do Novo Mundo.
Sim, mas vamos a algumas questões de ordem prática:
É muito gostoso se perder na Europa, embora deva minhas
desculpas (as sinceras e as mentirosas) ao grupo com o qual viajei e no qual me
tornei popular por fazer a excursão chegar e partir atrasada dos lugares. Consegui
me perder até em Genebra, um dos locais mais bem sinalizados da Via Láctea, de
acordo com relatórios da Nestlè.
Mas, perder-se em boa companhia é a melhor lembrança que se
pode ter de uma viagem. E pude me perder em companhia de pessoas incríveis, que
fizeram meus 30, 31, 32 anos não serem motivo de vergonha para os 33 anos
recém completados (?).
Colhi Moulin Rouge, plantado aos pés do Sacre Couer, e comi
do fruto até a abóbora virar carruagem (para emoções fortes, nada melhor que
uma metáfora cafona e desavergonhada).
Depois de me embebedar com meia garrafa inteira de champagne
{depois de me mijar de rir com um palhaço que era o melhor malabarista já
avistado pelas janelas indiscretas desta alma que vos escreve}[depois de ver
uma piscina cheia de serpentes brotar do chão, trazendo uma brava mulher que
lutava para se livrar do veneno de cristais Swaroviski](depois de ter levado
gritos de um garçom e estar tão feliz a ponto de ninar um “Foda-se” a bordo de
um sorriso alforriado), uni-me a um coral de dezenas de brasileiros para cantar Parabéns Pra Você para um amigo que convidou o mundo
inteiro para festejar com ele no Moinho e, no dia seguinte, chorar com ele a bênção
do Até Logo: árvore que nasce para se tornar semente e desmentir o adeus.
E fiquei pensando na idiotice de certas convenções quando o
amigo Ronaldo chorou a despedida e me mostrou que ser homem vai muito além de gritar
aos ventos uivantes que se gosta dos “peitchones” das dançarinas do Moulin
Rouge.
Como escapei de um grave acidente e estava na Europa,
permito-me dizer, sem medo, que meus amigos de viagem eram lindos: do nome aos
pés. Com uns, perdi-me em Pisa, com
outros em Montmartre, com outros ainda em Pompeia e em Genebra. Mas, sempre estava
a postos a amiga Hosana, que intercede por nós para que a viagem não nos deixe
para trás. Ela, sem se dar conta, acrescentou mais graça à Capela da Medalha
Milagrosa.
Paulo e Élida fizeram as fotografias se tornarem um lugar
aconchegante pra mim, não só as fotografias como as refeições, o metrô, o
bateau-mouche, as ruas. Perto deles, fica afastada aquela sensação, que me é
peculiar, de não ter sido convidado para a festa ou de que minha voz é como um
telefonema composto de sílabas caquéticas e indesejadas.
Mauren e Geraldo, a família vinda da Paraíba, a mãe e a
filha vindas do Rio Grande do Norte, amigos do México, do Panamá, do Equador,
amigos que compartilharam comigo segredos sem que fosse preciso dizer que se
tratavam de segredos. E assim, as paisagens podiam descansar da turbulenta
viagem a bordo de nossos olhares inconstantes.
Convido a todos, incluindo o nosso guia durante a visita a
Pompeia e a Nápoles, para fazer um minuto de silêncio em memória da sereia que
se matou porque Odisseu não quis ficar com ela
(...)
Com estes amigos, o projeto inicial de ser um andarilho
solitário pelas brumas europeias tornou-se um plano distante: Hosana nas
Alturas, por isso!
Jô não teve a chance de conhecer a Basílica de São Pedro,
mas a basílica está nela, assim como em Elaine. Não vou esquecer o quanto foi
gratificante fugir da chuva de Nápoles ao lado desta dupla dinâmica e do
professor de História, Jandier. Isso após termos comido um macarrão que, de tão
duro, merecia ser chamado de “Ai dente” em vez de “Al dente” (Isso sem mencionar
a fatídica sobremesa, conhecida, entre os napolitanos, como baba e que
consistia em pão molhado na garapa, conhecida, entre os químicos, como H2O com
Sacarose Múltipla).
E, partindo da Itália, o bater de nossos corações, rumo ao
Mont Blanc, funcionava como o cinzel de Miguel Anjo, esculpindo nossas almas
não em mármore, mas em mar (de neve).
Clayton e Renata tornaram irresistível a mim abrir mão de viajar sozinho. Clayton é
um pouquinho muito chato e teimoso (chatice bilíngue, diga-se de passagem), mas
a boa-vontade/fraternidade são os picos
mais imponentes na cordilheira de seus sentimentos. Já Renata: é como se seu
bom-humor e simpatia dedilhassem as cordas do invisível, tocando um hino ao
Espírito. Mas, me deixa enxugar a baba antes que a memória daquela terrível
sobremesa de Nápoles volte ao meu paladar (mas, depois das últimas tempestades,
dou-me o direito de desatar os nós da cachoeira e ser elogio derramado: felicidade).
Paulo Ricardo (que não é o cantor, mas é músico) fez da
Europa um atalho e aterrissou para me ajudar a deportar a desilusão e fazer de
cada clique da máquina fotográfica uma moeda e de cada paisagem uma filial da
Fontana de Trevi: #Toquemomeucoraçãofaçamarevolução. Dos anjos, chegue a ele a
admiração, do mundo, o carinho. De mim: os três (a saudade, em anexo).
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