Lazarsfeld, considerado um dos pais das teorias da
Comunicação, afirmou que um dos principais pilares do circuito comunicacional é
a fofoca. Sem ela, o alcance do que é
veiculado pela mídia seria nulo. Fofoca, bisbilhotagem: a eficiência dos meios
de comunicação estaria diretamente ligada à capacidade destes de exercerem sua vocação
de janelas indiscretas.
Neste sentido, as revistas de Celebridades são espaços
consagrados à fofoca sobre a programação da TV, retroalimentando este meio de
comunicação. Isso já era verdade nos primórdios do jornalismo, quando a fofoca semeada nos Cafés era combustível que fazia continuar
trabalhando a prensa na qual eram gestados os jornais.
Hodiernamente, certamente talvez sejam as redes sociais o principal
celeiro de fofoca do qual se nutrem as mídias. E, nos murais e mensagens
privadas do Facebook, no Twitter, no Instagram, a fofoca enfrenta o desafio de se adequar a normas de uma etiqueta que acreditamos ser nata sem perceber que é, a todo
instante, reinventada.
E, os requintes, ora de crueldade, ora de generosidade (momento raro),
da fofoca experimentam a pressão imposta pelas característica peculiaridades
das diferentes redes sociais.
O problema é que a mídia vem sabotando sua própria
inspiração: o boato: fundado na maledicência. Pensemos no fenômeno
Sérgio Reis, com sua “Panela Velha” (anos 70?). Qual foi a matéria-prima deste
sucesso senão ter enfrentado a dose de maledicência presente no
preconceito de que uma mulher, ao cruzar o cabo Honoré de Balza, estaria velha
e condenada a não ser mais desejada por um homem. O que esta canção fez foi desdenhar do preconceito que nutriu durante tanto tempo as "conversas de bastidores" (fofocas).
A sabotagem da fofoca vem se intensificando diante
da pluralidade de padrões estéticos e culturais que está ganhando espaço na
mídia. Nas timelines e, na própria TV, as madeixas pixaim conquistam
reconhecimento equivalente ao dos cabelos lisos (antigamente chamados de “bons”),
índios, orientais, negros e caucasianos trabalham juntos na mesma equipe de
revezamento em busca do reconhecimento. E mulheres de quarenta anos acham
terreno para ostentar uma beleza que nada deve a de duas mulheres de vinte.
Perséfone entra linda na igreja (Foto: Pedro Curi / TV Globo) |
Na novela das 9, de Walcir Carrasco, o caso da personagem
Perséfone desafia o preconceito de que é impossível a uma pessoa gorda ser
amada por alguém magro. Assim, rouba das línguas ferinas o "privilégio" de, mesmo sem
falar, fofocarem através das mal traçadas linhas do Face e dos mal traçados caracteres do Twitter. De certa forma, a redenção da Perséfone da novela contribui para redimir a figura mitológica de mesmo nome. Na mitologia grega, Perséfone, filha da deusa Ceres, foi condenada a ser uma eterna transeunte, passando seis meses na Terra e seis meses no Inferno. Na novela, a personagem ganha o
direito de revanche, expondo, questionando e neutralizando preconceitos que a
covardia nutre por meio da fofoca: versão contemporânea do vai-vem entre a vida e a morte (dos corpos e das almas) ao qual estão sujeitos suas vítimas
Num contexto em que as fronteiras dos valores buscam
frequentemente se reconfigurar, a fofoca vive um momento delicado, pois ela
costuma precisar de certezas, mesmo que sejam certezas falsas, para se manter
de pé.
Ao lidar com a fragilidade de suas opiniões preconcebidas, os meios de comunicação inibem a fofoca e, com isso, precisam repensar qual será seu combustível. Talvez, a partir de agora, Perséfone tenha a chance de ficar mais tempo livre do vai-vem entre Terra e Inferno, cuja versão contemporânea é o ciclo do disse-me-disse.
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