O menino Jesus e os três batimentos cardíacos
Um poema de Jose Luis Paredis
O Menino Jesus não mentiu
Ele já tinha a idade do tempo sem tempo
Quando viu os pentes das metralhadoras sorrindo e zombando
da paz
Em seguida assistiu a um efeito do Photoshop clarear os
dentes de uma pessoa
Em agonia
Dentes claros de um ser humano grávido da fome
(Os filhos da fome não são jamais órfãos
O pai da criança – a indiferença – deu-lhes seu sobrenome,
E o pequenino Cristo, com sua perfeita acuidade visual,
Penou para identificar aquele nome borrado por debaixo das
águas trêmulas,
Sacudidas pelas centenas de mãos de Pôncios Pilatos que
tentavam se limpar
Com o choro contido daquelas mulheres que eram obrigadas a
escolher entre chorar ou
Continuar vivas
Mas, o Menino Jesus não mentiu
Olhou para o cálice amargo e para a cruz
Sua intuição de mágico lhe dizia
Que aqueles rios de dores não conseguiriam extinguir
O mar da ressurreição
Para o qual o leito das esperanças, com o mais sutil vigor (ou
vigorosa sutileza),
Abre caminho
O Menino Jesus não mentiu
Ele não era mais capaz de desistir do ser humano
Após vê-lo vestido em rios de dores
Rios rudes e ásperos
Cachoeiras de desertos a escorrer
Dos pesados montes que traziam sobre os ombros
Mas, o coração humano, que batia uma vez para a indiferença
E outra para a misericórdia
Escorria, por uma ferida aberta, um rio secreto de cura
E de uma alegria que, mesmo durando um só segundo,
Fez, faz e fará todos os tempos descobrirem que nunca
estiveram sozinhos
E que valeria a pena nascer
Desde que fosse para combater o bom combate ao som
Da batida daquela uma vez que o coração humano batia
Para fazer corar de vergonha a batida intrusa da indiferença
O Menino Jesus não mentiu quando disse
Que trocaria a vida
Para fazer o peito humano bater
Em compasso Ternário
E, assim, nasceu e se fez a Terceira e Decisiva batida
do coração
O Menino Deus não mentiu quando nasceu para descobrir, no silêncio, que
Esse terceiro batimento cardíaco se chamava amor.
* Meu Feliz Natal a Alguém Nobre
* Meu Feliz Natal a Alguém Nobre
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