Talvez Fredric Jameson esteja correto em sua avaliação e
continuemos - por mais “pós” que desejemos ser (pós-modernos, pós-história,
pós-capitalismo, pós-ideologia, pós-graduandos...) – devedores das ideias do
século XVIII, mais precisamente as ideias Kant.
Ele despiu a palavra sublime de seu senso comum e a revestiu
de teor filosófico. Lembro como uma
professora e amiga, chamada Maria do Carmo Nino, resumiu o conceito kantiano de
sublime:
“Pense numa pequena pedra à beira de um imenso abismo. O
sublime é quando a infinitude do abismo tenta caber na pedrinha e quando a
singeleza da pedrinha se mostra um caminho para o abismo ”.
O sublime é um trem que passa por diferentes estações, a
exemplo da plenitude, da impotência e do terror. Em todo caso, o que está em
jogo é a medida que nos escapa. Algo pode ser tão simples e próximo que, quando
pensamos o ter sob alcance da razão, este algo foge de nossas mãos. Ou, então, algo
é tão imenso e profundo, que não cabe em nossa razão.
Certamente talvez, o terreno do sublime é um lugar entre a
admiração e o medo.
Causava admiração e medo, por exemplo, a incrível capacidade
de Rafael Sânzio de reproduzir, esculturalmente, o corpo humano.
Porém, atualmente, um terceiro elemento aparece como elo
entre a admiração e o medo que participam da identidade do sublime: o riso. Não
o riso nosso de cada dia, mas o riso ansioso que, de tão aguardado e, ao mesmo
tempo, tão descartável, acaba sendo um disfarce do desespero.
Se antes, a compenetração e a veneração eram marca do
sublime, hoje, esta marca parece ser o riso desesperado. O You Tube tem sido um
importante celeiro desta nova versão do sublime. A proposta é que o sublime se revele por meio
da trashice. Algo é considerado sublime quando nos faz perguntar: “Como alguém pode
fazer algo tão trash?”.
Meu amigo Haroudo me advertiu de que esta postagem corria o risco de confundir os conceitos de sublime e grotesco. Ora, se não houvesse tal risco, o sublime e o grotesco se resumiriam à normalidade. Ele também comentou, com argúcia, que o sublime eleva e o grotesco enterra. Nisso, tenho de discordar. O sublime é capaz de nos enterrar, mesmo que o túmulo sejam as nuvens do Olimpo...
Meu amigo Haroudo me advertiu de que esta postagem corria o risco de confundir os conceitos de sublime e grotesco. Ora, se não houvesse tal risco, o sublime e o grotesco se resumiriam à normalidade. Ele também comentou, com argúcia, que o sublime eleva e o grotesco enterra. Nisso, tenho de discordar. O sublime é capaz de nos enterrar, mesmo que o túmulo sejam as nuvens do Olimpo...
O Marquês de Sade tem, enfim, sua revanche. O trash agora
torna-se a fórmula do sublime e se especializa cada vez mais com auxílio das
tecnologias HD (high definition). Vivemos uma época em que as pessoas querem
evitar o peso de ser admiradas ou temidas e estão preferindo ser alvo do riso
desesperado. E assim, os artistas do
desespero risível aprimoram técnicas de produção de “obras-primas” do trash,
onde o que importa é fazer da perda de tempo algo digno de ser le grand finale do espetáculo.
A seguir, dois exemplos do trash em High Definition. Primeiro, uma foto extraída do site Cartiê Bressão
“Vendeur arabe s’arrête pour un bain rafraîchissant”, Praia do Arpoador — 2012 |
Depois, o vídeo de um dos hits da Companhia da Lapada: "Eu vou cortar a cara dela":
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