Cena de Avenida Brasil |
O melhor remédio para a insônia é assistir a algo que faça o
sentimento surpreender o seu proprietário (o coração). O pior, porém eficaz, é
assistir a algo que não convença, como os últimos capítulos de Avenida Brasil.
Heloísa Perissé se esforçou, mas sua atuação não conseguiu
convencer que a personagem Monalisa continuava amando Tufão. Afinal, ela havia
passado a novela inteira convencendo o público de que seu amor não era mais
Tufão, mas sim o personagem Silas.
Monalisa reconquistou o amor de sua vida com um carro de som
que oferecia um serviço de telemensagens. Nessa hora, cheguei mesmo a acreditar
que os dois se amavam, pois só um amor a altura do livro bíblico Cântico dos Cânticos
para resistir à provação de ser torturado pelo carro de som da telemensagem. Se
bem que minha mãe ficou emocionada quando eu contratei esse serviço para
homenageá-la em seu aniversário.
Mas, o autor da novela poderia ter misericórdia e, ao menos,
compor uma poesia para ser veiculada pelo carro de som. Algo mais ou menos
assim:
“Quis acreditar que havia deixado de te amar porque tinha
medo de fazer o caminho de volta antes que meus calcanhares de Aquiles
cicatrizassem das flechadas que partiam do arco do engano”. Tipo: é meloso, mas
ameniza o pânico propagado pelos alto-falantes do carro de som.
Tufão também não colaborou para que o clima de romance fosse
convincente. Melhor dizendo, quem não colaborou foi a atuação de Murilo Benício
que transformou Tufão numa descompromissada brisa: saudades eternas de sua
performance no filme Amores Possíveis...
Coerente a revelação de que Carminha matou Max. Coerente
como a composição química de um sonífero. Mesmo a visceral interpretação de
Adriana Esteves não convenceu ao tentar passar a mensagem de que Carmem Lúcia
se arrependera. Marcelo Novaes também não colaborou, pois sua interpretação de
Max daria motivos não para que o personagem fosse assassinado, mas sim para que
fosse exonerado.
O pedido de perdão de Carminha talvez tivesse convencido
mais se ela houvesse feito uma oração. Algo do tipo:
“Queria não me chamar Carmen Lúcia por alguns instantes e
esquecer como se pede desculpas e olhar para trás e não ver crimes, mas apenas
equívocos; não equívocos, mas somente mal-entendidos; não mentiras, mas só um
desejo de ter podido ajudar tua solidão a ser menos só e te pedir que tua
companhia ajudasse minha companhia a ser menos egoísta, exigente e, quem dirá,
afixiante...” .
Simplesmente deixaram para lá a hipótese de que Nina
sofresse, mesmo que de leve, de um transtorno bipolar. Não convenceu!
Talvez o capítulo tivesse sido mais interessante se tivéssemos
tido a chance de ouvir uma oração de Carminha e outra de Nina. Algo como:
“Quero que um anjo te visite e diga que o bem que tento
fazer por ti secretamente não precisa te causar medo ou espanto. Fiz o bem (esta
foi minha maior ambição depois de acreditar na esperança). Agora, me despeço
sem esperar que a novela acabe”.
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