31 de outubro de 2011

Penúltimo capítulo de O Astro - realismo fantástico em mares nunca dantes navegados



Fonte: globo.com


Quando a estética do choque parece virar lugar-comum a ponto de transformar o choque em dormência, eis que surge O Astro. Ou, mais especificamente, eis que ressurge, em 2011, O Astro com um final surpreendente.

A surpresa está não no que é contado, pois tudo ocorreu conforme o protocolo. Os vilões ou morreram ou foram presos. E os heróis viveram felizes para sempre e comemoraram a “felicidade eterna” numa boate ao som de Glamurosa, de M.C. Marcinho.

O surpreendente revelou-se no modo como o clichê foi recontado. O efeito-surpresa contou com o auxílio luxuoso dos atores, que não conseguiram esconder a máscara de comédia que a trama tentou ocultar sob um véu quebradiço de seriedade que, não raro, almejava ser tragicidade.

O gatilho do choque foi disparado já no penúltimo capítulo, quando o personagem principal, Herculano Quintanilha, desafiou o gradiente de probabilidades estabelecido durante a novela. 

Herculano, a fim de fugir de uma perseguição policial, começa a levitar. De vidente, o personagem foi promovido a aeróbata. Logo a seguir, uma nova promoção. Quintanilha transforma-se num pássaro, da envergadura de um jatinho, e sai voando.Não foi o ato de voar que, por si só, surpreendeu, mas as duas promoções sucessivas. É como se lêssemos uma notícia sobre um advogado recém-formado que, de uma semana para a outra, torna-se desembargador e ministro do Supremo Tribunal Federal.

Ainda mais surpreendente foi o efeito especial utilizado para dar movimento ao pássaro, que batia as asas com a desenvoltura de um pterodátilo de filmes da década de 60: o padrão Globo foi “supreendentemente” ferido.   

Como bem classificou o ator Rodrigo Lombardi, em entrevista a Ana Maria Braga, esta cena é um exemplo de realismo fantástico. 

Realmente, uma expressão nunca dantes vista do fantástico, posto que outros personagens, ao verem a metamorfose do protagonista de O Astro, inspiraram surpresa e expiraram  um artificial “Ah, para o Herculano isto é normal!”. 

Eu, contudo, mantive o fôlego paralisado pela perplexidade e, como nunca dantes, vi nascer a comédia no terreno do realismo mágico.

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