Arte/foto: Karla Vidal
Muitas veses, tenho resseio de dar o próssimo paço e escrever errado
Em desrespeito à página reservada à escrita incerta do des(a)tino
Não sei direito qual extensão e intensidade dar ao toque
E temo que ele seja lido pelo você que me lê
Como tremor de terra, tsunami, onda de choque,
Ou pior: como um amar sem ondas
Espero que o você que me lê
Continue pegando carona em um dos raios
do sol que nasce trovão
E venha sempre me ensinar a ser ousadia com "d" de doçura
Pertence a ele a dica e a deixa de onde e quando deve ser o toque
E mesmo que eu, sem querer, me adiante, queimando a contagem
Sou feliz em ouvir o tempo dedicado a meus gestos de combate
Sendo narrado pela voz do você que me lê
Sou feliz por ele levar em conta meus passos e descompassos
Na poesia, e em nossos bailes-lutas,
Procuro ensaiar nossa primeira dança,
Onde todos os sentidos - do sétimo ao primeiro -
Têm permissão de destilar carinho
Gosto de sentir que o você que me lê
Permite que meu olhar seja como um girassol
Que treina como ser discreto em seu heliotropismo
E que meu toque nefelibata percorra
O desfiladeiro de seu queixo
E, logo a seguir, seu trapézio nu
Sem rede de proteção
Quando ele puder visitar com seu vivo e falante pulsar
Os morros que despontam ao extremo sul de minhas costas
E deixar o que nele é sacro abraçar o que é sacro em mim
O sacro não se importará de passar a ser chamado de profano:
Ossos do o(ri)fício
Mas esse prazer não é maior do que
Quando a existência dele dorme ao meu lado
O acordar dos justos
Tudo faz todos os sentidos desde que ele chegue
O cotidiano com ele é um piano
Que toca as notas do perfume desguardado
No frasco de mim mesmo
Essa força suave e tranquila
Faz o meu silêncio se tornar eloquente
Espero que ele sinta prazer em lutar a primeira dança comigo
Pelos dias afora
Que bom que a vida me dá chance de reencontrar
O você com quem posso calibrar minhas declarações de amor
Justo quando eu cheguei a pensar que isso não seria mais possível:
Que tinha me tornado irremediavelmente arredio
Sem se dar conta, ele ajudou a pôr fim a essa enlutada certeza
Em outras vidas, se houver, ou outras ressurreições, que há de haver
Quero que ele me chame pra ser lido por ele, pra lutar e ser lutado por ele;
Que ele me chame pelo nome que me faz dele
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