23 de agosto de 2016

Poema bebido durante um engarrafamento


Foto: site Sobre Vinho


Em trânsito



Não te olhar hoje evitou que minha pupila tivesse um infarte obtuso

Escolha qual opção me resta: pensar que estive o tempo todo enganado ou que sou louco

E convença o Descartes que mora em mim de favor a  reler a lenda de Tell e refazer sua máxima:

"Penso, logo mentes"

Que vontade de te descartar, de abrir o peito e dizer: Sou feliz como nunca

E fingir que o passado é uma infração ultraleve, que não conta pontos,

Mas, loucura mesmo é esperar que, em sã consciência, advirtas-me

Sem escrita, lei, edital

Obrigando a liberdade a publicar uma resolução

Onde abraçar deixa de ser sinônimo de dirigir na contramão

Amanhã, devo amanhecer sem esta vontade doída de ir embora de mim

Porque a carteira de habilitação do sol disse "Dane-se" à categoria

E suspendeu meu direito de desistir de amar por tempo indeterminado

Antes que o engarrafamento cesse

Antes que a lágrima de açúcar descongestione meu sentido do olfato

Espero me encontrar contigo no fim de semana

E tomar um cálice de vinho sem porto


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