Nossa Senhora Fonte: Ave Luz |
Costumo falhar quando o assunto é fazer chegar minhas
correspondências às pessoas que amo
Perdoe-me, Baudelaire!
Perdoe-me, Maria, pelas flores do mal que meu corassão
sementeia a teus pés
Minto a idade, assisto pornografia esporadicamente, talvez,
Julgo precipitadamente (mas guardo os veredictos no compartimento
secreto de meus bolsos)
Deposito poemas secretos na timeline do Facebook
Insisto em ter esperança de que serei amado por quem amo
Não sei como, diante de tantos senões, sinto-me convidado
pela Senhora da Luz a
Cantar para ela
E quando eu canto a Salve Rainha, minha mãe te vê dançando,
Nossa Senhora
Que honra sem tamanho,
Pois quero poder te presentear com a leveza da dança e
ajudar teu coração imaculado
A esquecer por um minuto que seja as dores das espadas, o
peso de, por amor,
Fazer-se nossa intercessora
Há quem dirá: “Diga Adeus aos intermediários”
Eu digo: Deus me livre e guarde
Obrigado, Mãe, por interferires com teu silêncio glorioso
Nos rumos da minha oração
Contigo, aprendo sempre que o silêncio orante é o supremo
alicerce da poesia
Tenho certeza de que Deus não se importa de seres chamada
Mãe de Deus
Porque ele não é tacanho e ele quis que os seres humanos
fossem co-artífices da redenção
E tu és sempre tão humana, errante, peregrina, mais que
padroeira, refugiada em tantos países
Chorando com as mães os filhos mortos paridos pelo mar sem
fim
E os desaparecidos ocultos neste fim sem mar
Rainha, tu que vences o dragão, intercede para que nenhuma
Drag Queen seja assassinada
Por algum infeliciano
E para que nenhuma criança seja apedrejada por, em vez de te
chamar de Maria, te chamar de Iemanjá
Rainha do novo mundo,
Tu, que aceitaste o risco de seres chamada de prostituta e
apedrejada
Para que chegasse à terra Aquele que ensinaria a esperança a
germinar dos corações
Rainha porque teu manto recobre virgens e putas e
divorciadas e transexuais: homens e mulheres: humanos
Sempre soube que existias, antes de saber quem eras
Porque ajudaste os tiros que, sem pedir licença, entravam em
minha casa,
A desistir de nos matar
Intercede, mãe, pelas futuras vítimas de balas perdidas
Pelas crianças perdidas
Por Peter Pan
Agora e na morte de nossa hora
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