São Tomé
Por Linardo Cleto
Minhas interrogações nevaram e tua resposta abraço não
chegava nunca
Ou o nunca é somente uma esquina que cansou de esperar pela
atenção da fé alheia
Tomé queria só uma desculpa para acariciar a mão macia de
Cristo
Por isso, fingiu acreditar só no que via
Ou talvez, ele quisesse sentir a maciez daquele toque
chagado
Minhas interrogações chegaram, mas o ancoradouro se atrasou
Tiveram de se agasalhar com tua indiferença
E assim proteger-se do calor humano e suas cobranças
Sei que, daqui a uns três meses,
Sentirei saudade de estar
desprotegido
De ver minha nudez lutando contra
a tua
Vestida de luar
Rua e desmoronamento
Meu Eu te amo tem medo de ser
muito sutil ou louco ou réptil
Queria ser suave e louco na
proporção quase mais-que-perfeita
O suficiente para furtar de ti a
vontade de passar uma noite inteira
Ressonando não-vá-embora em algum
lugar entre minha nuca e meu nunca mais
Adoro teus beijos arremessados
pelo futuro
Fazendo minha esperança deixar de
ter medo do espelho
E meu acreditar sentir a brisa
dos estilhaços do dia em que não terás vergonha
De pegar no sono no meu passado
sujo:
Trajado de corpo insigne
Ultrajado
Corpo de delito
Onde minhas palavras acharão o
meio-termo
Entre o sarcasmo e a doçura
Afiados o bastante para
Roubar de tua pele o pico das
cordilheiras
Suaves desmedidamente
Carícia de um
arqueólogo-fisioterapeuta
Capaz de curar os traumas, camada
por camada
Até que teu aeroporto faça as
pazes com tuas asas
E tu voes, meu anjo, até sentires
saudade de vires me visitar
Num congestionamento anônimo
Em Táchira
Ou, talvez, no What’s up
Receba meu beijo
Capaz de fazer Tomé acreditar sem ver
De se deixar ficar de mãos atadas
Enquanto provo que sou de verdade
Lambendo-te a geografia, átomo por átomo
e decifrando as zonas erógenas de seu mapa astral até
seu coração de carne parar de fingir que é de esmeralda.
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