Chainless Photography via Visual Hunt / CC BY-SA |
Uma parcela daqueles que se entendem como heterossexuais - ou, melhor dizendo, os heteronormativos - acham que estão livres da perseguição e do preconceito. Como se os gays sempre fossem os “outros”.
Nas rodas de conversas, os heteronormativos chamam a si
mesmos pelo nome, mas apagam o nome dos homossexuais, que são reduzidos a uma
categoria, sendo-lhes retirada individualidade.
O dilema da transexual Ivana, da novela A Força do Querer,
ilustra essa tendência. Boa parte do sofrimento da jovem se deve ao fato de
viver cercada por pessoas que, a fina força, querem fazer coincidir gênero e
sexualidade, anulando as identidades complexas que se erguem nessa tensa
fronteira.
A heteronormatividade comete o erro de achar que o fato de
ser homossexual proíbe o ser humano de ser indivíduo dotado de particularidade
e personalidade. Daí, o entendimento de
que todo homossexual que não se encaixa na forma de estereótipos é um enrustido
ou um embusteiro.
Muitos têm se prostrado diante das ideias de Jair Bolsonaro,
chorando nostalgicamente pelo retorno de uma era ideal – que nunca existiu –
ondeseria possível distinguir, com exatidão, as fronteiras entre masculino e
feminino, paralisando o complexo diálogo entre Yin e Yang.
Mas, a ideologia bolsonariana em sua busca pelo modelo ideal
de homem vai produzir um efeito semelhante ao do conto O Alienista, de Machado
de Assis, onde o personagem-título, de tanto enxergar loucura em todos que o
cercam, acaba chegando â conclusão de que o único louco era ele mesmo.
A ideologia bolsonariana assim como rebaixa os homossexuais
terminará criando subcategorias de heterossexuais, que também serão vítimas de discriminação.
Assim, poderão ser discriminados e tachados de enrustidos,
por exemplo, os heterossexuais engomadinhos e perfumados; Ou talvez os
heterossexuais que fazem da academia um templo de culto ao corpo.
Afinal, o ideal bolsonariano só chega ao orgasmo quando
coloca todos sob suspeita. Ser homossexual assumido é, na visão à Bolsonaro, um
crime. Porém, ter comportamentos que fazem a pessoa suspeita de não ser
heterossexual é, no código penal bolsonariano, um crime qualificado e com
motivação torpe.
Se, Deus nos livre, a ideologia bolsonariana triunfar, não
vai adiantar sair por aí dizendo que come buceta para escapar da
estigmatização. Isso porque, como nos lembra o canto traidor de Ossanha, “aquele que diz sou não é”.
O Governo bolsonariano vai estabelecer uma hierarquia de castas
de heterossexuais, conforme supostamente o heterossexual esteja ou não afastado
do “vírus” da homossexualidade.
E, no fim, talvez Bolsonaro descubra que até mesmo ele é um
heterossexual sob suspeita.
Um governo pra fiscalizar o cú do brasileiro, é a última palavra em idiotização política.
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