30 de janeiro de 2017

Estereótipo, preconceito e a "obrigação" de ser exclusivamente Yin ou Yang

Photo via VisualHunt



Carlos da Maia, um dos personagens principais da obra Os Maias, escrita por Eça de Queiroz, na segunda metade do século XIX, era um homem sensível, ultrarromântico de um modo que um olhar estereotipado poderia classificar como feminino.

Já sua esposa, Maria Monforte, dona de um espírito aventureiro e libidinoso, poderia ser relacionada ao arquétipo masculino.

O problema dos estereótipos é que eles geram uma dupla confusão:

1. Confundem desejo e identidade
2. Ignoram que a presença dos princípios Yin (feminino) e Yang (masculino) acontecem em diferentes proporções nos indivíduos

Em virtude dos erros mencionados acima, surgem julgamentos que dão a impressão de descrever indivíduos, mas, na verdade, descrevem comparações esdrúxulas e sem fundamento.

A fragilidade da comparação é revelada quando são feitas outras comparações, trocando-se os termos da comparação.

Dessa forma, um homem de um dado perfil pode ser considerado homo ou heterossexual a depender do outro perfil com o qual se esteja fazendo a comparação.

Percebe-se que não há uma conexão necessária entre o desejo sexual e um dado perfil.

A precipitação decorrente do olhar estereotipado também ocorre no sentido contrário, partindo-se do desejo em direção à identidade. É o que acontece quando se espera que uma pessoa cujo desejo é homossexual seja totalmente regida pelo princípio Yin.

Daí decorrem preconceitos como o de pensar que a presença do componente Yang no perfil de um homossexual significa que ele é enrustido ou ainda que um homossexual não pode participar  de atividades Yang porque sua “obrigação” seria ter um perfil vibrando exclusivamente na frequência Yin.

A preguiça de conviver com a complexidade dos perfis humanos e a necessidade de dividir a sociedade em clubes onde, com base no perfil, pode-se ou não entrar, conduz as pessoas a assumirem a postura tirânica de querer determinar a dosagem de Yin e Yang umas nas outras.

E o pior é pinçar determinados aspectos Yin ou Yang, e elegê-los como indicadores exclusivos do “ser homem” ou “ser mulher”.

Consequência disso é a pressão social para que homens e mulheres assumam perfis monossilábicos, sem nuances:

“Homem” deve falar em buceta e/ou coçar o saco
“Gay” deve imitar mulheres, fazendo de seus gestos hipérboles
“Mulhere” deve gostar de artes e estética

Os estereótipos se esforçam por petrificar a relação entre os princípios do Yin e do Yang, caracterizados pela fluidez.

Sabe-se que os clubes ou guetos erigidos em cima do alicerce do estereótipo são pavimentados pelo medo e pelo absurdo de se pensar que o desejo é uma doença socialmente transmissível e a identidade, fora dos muros do gueto, um vírus.

O estereótipo é uma triste metáfora dos anticorpos assim como os guetos são metáforas das células nutridas pelo sangue do preconceito, que dispensa trocas gasosas.

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