A poesia é uma forma de roubo. Essa mesmo, de saída,
pretende tirar teus óculos escuros, e, desta forma, te deixar completamente nu
(na vida real, seria preciso tirar tua roupa inteira e, mesmo assim, só
conseguiria despir teu corpo...).
Se uma rosa branca ganha, na poesia, pétalas de luz da lua,
é um jeito que a metáfora encontra de dividir comigo o produto do roubo: a
maciez da tua pele branca que meu toque não consegue alcançar, pois não tem o
segredo do cofre da tua timidez.
Nossas histórias parecem ter seguido caminhos diversos, mas quase não tem um só dia que eu consiga esquecer das poucas vezes que te fiz sorrir,
de quando ficavas contente por eu ser o único da sala que respondia teu “Ça va?”
com um “E toi?” (é que todo mundo
costuma se limitar a um egoísta “Bien” sem direito nem a um “merci”).
Mas não sou saudosista, não vivo de passado. Por isso,
quando penso em ti, minha mente conhece a doçura, desperde-se do caos. Amo o teu eu de agora com todos os fios de
prata refugiados no eclipse que emoldura teu rosto (e aí a poesia encontra um
jeito de roubar todos os cafunés nos teus cabelos lindos, cafunés que o futuro
ainda não me pôde trazer).
Poderia passar horas a fio abraçado com tua distância, teu
silêncio, o nariz empinado e aquelas caras birrentas e, mesmo estando feliz com tua altivez
calçada em solo romano, não consegui não ter ciúme de ti ao lado da bela
jovem que dividia a cena contigo (chego a quase pensar que não tenho chance diante dela). Mas, na foto que tirares comigo, a aura de
amor vai ofuscar o sol da Toscana, libertar os punctuns de sonho e milagres
escondidos na paisagem e ensinar a felicidade a compor uma sinfonia.
Lembro quando entravas na sala da Nova Aliança, sem motivo, para sorrir pra
mim e me ajudar a desficar triste: obrigado, meu amor.
Lembro quando me esperaste em frente à padaria fechada. Eu
tive medo que tu tivesses medo de mim porque tudo que sempre quis foi tua paz e
achar que tu me temias me causava muita dor. Mas, hoje compreendo que querias
te aproximar de mim e mostrar que eu não era louco como achava que era.
Sinto vontade de te ver de novo todo dia e roubar à flor
armada os teus beijos: roubo consentido porque te amo e te ver feliz e à
vontade me faz ter orgasmos múltiplos.
Quando acaricio algum gatinho ranzinza e malhado (branco com
preto), gosto de pensar que estou mantendo contato telepático contigo.
Até tenho saído com alguéns, mas só um Alguém acelera meu
coração quando muda de perfil. Seja secreto ou platônico ou inventado, o amor
que sinto é simples como a fórmula do grafite e complexo como a estrutura
atômica do diamante. Sigo em frente, mas preciso acolher a parte de mim que te
espera porque depois de conhecer o teu sorriso ranzinza, a esperança se torna
um convite irrecusável.
PS.: Ainda guardo a camisa do Hulk que comprei pra te dar de presente, de passado e de futuro.
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