A discriminação é coisa que não presta, mas a “”DISCRIMINASSÃO”
é algo ainda pior. Li algumas críticas ao beijo entre as personagens de Natália
Timberg e Fernanda Montenegro. O direito à crítica é, por certo, algo não só
constitucional, mas natural, tendo em vista que a condição humana primordial é
a crise, independentemente das Operações Lava Jato da vida.
Mas, o que inspirou essa postagem foi ter lido uma crítica
do Facebook que dizia que o beijo entre as atrizes era uma “nogueira”. Acredito
eu que o crítico “especializado” quis dizer que o referido beijo era uma “nojeira”.
Pelo lado áureo da Força, façamos uma pausa para resgatar um trecho da
declaração de amor de Clarice Lispector à Língua Portuguesa:
Esta é uma declaração de amor: Amo a língua portuguesa. Ela
não é fácil. Não é maleável. E, como não foi profundamente trabalhada pelo
pensamento, a sua tendência é a de não ter sutilezas e de reagir às vezes com
um verdadeiro pontapé contra os que temerariamente ousam transformá-la numa
linguagem de sentimento e de alerteza. E de amor. A língua portuguesa é um
verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve tirando das
coisas e das pessoas a primeira capa de superficialismo. Às vezes ela reage
diante de um pensamento mais complicado. Às vezes se assusta com o imprevisível
de uma frase. Eu gosto de manejá-la – como gostava de estar montada num cavalo
e guiá-lo pelas rédeas, às vezes lentamente, às vezes a galope. (Continua...)
Como se percebe, o exemplo que trago das terras d’Além
Faceboook rema contra a maré da declaração de Lispector. O crítico, autor do “neologismo”
“Nogueira”, sacrificou o Português duplamente, pois além do erro crasso,
utilizou nosso idioma não para remover a capa de superficialismo das coisas,
mas sim para reforçar essa capa.
Certamente, talvez, serei chamado de purista pelos
defensores do império da variação linguística. Assumo o risco, pois o objetivo
principal da teoria da variação linguística é combater preconceitos. Portanto,
acredito que a “Nogueira” é simplesmente um erro grotesco escrito sobre as
linhas tortas da “AUMA” do cidadão.
Em algum outro texto, referi-me à terrível profissão que
estava despontando no mercado, tendo como escritório as redes sociais. Trata-se
do Vigilante de Cu (VC). Não o confundamos com os Vigilantes do Peso. Nada a
ver.
Os Vigilantes do Cu alheio não têm tempo para consultar um
dicionário antes de escrever suas nojeiras, mas têm tempo de sobra para tocaiar
a vida sexual dos outros. Acho que vai ser preciso convidar a filósofa Valesca
Popozuda para fazer uma participação especial na novela Babilônia cantando
Beijinho no Ombro pra ver se ameniza o recalque dos VC.
Não é preciso ser um especialista em Teorias da Comunicação
para entender que aquilo a que assistimos não nos torna replicantes. Não é
porque assisto à porquinha Pepa, que virarei uma porca. Não é porque assisto “Fala
que eu te escuto”, que virarei Edir Macedo. Essa ideia de que novelas
prostituem ou transformam heterossexuais em homossexuais é fruto da ignorância,
enraizada em nossa cultura, de que a orientação sexual é um tipo de religião à
qual se adere, por meio de uma espécie de conversão. Outra versão dessa
ignorância está na ideia de que a homossexualidade é uma doença e que a
heterossexualidade é o estado “normal” de saúde.
Muitas pessoas utilizam as redes sociais para dar formato
textual a instintos irrefletidos nas horas vagas e nas ocupadas também. Tanta
polêmica em torno de um beijo quando polêmica maior deveria haver dentro das
famílias antes de optar por colocar os idosos em asilos, livrando-se do “fardo”
da velhice, cada vez mais pesado numa sociedade que cada vez mais teme a morte
e arrefece o narcisismo. Além disso, vale a pena pensar no que seria essa
suposta entidade denominada “Família Brasileira”. Existem simplesmente famílias: com todas as
suas crises e contradições e esse conceito de “Família Brasileira” parece ser
mais uma abstração destinada a propagar moralismos, boicotando a reflexão sobre
os valores.
Pra não dizer que não falei das árvores, lembremos que
Nogueira é uma árvore, de onde se extraem nozes (que não é o plural de Nó). Coitada
da árvore. Ela não ficara assim tão triste desde que viu, em algum lugar da
Judeia, um jovem profeta amaldiçoar sua prima Figueira.
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