3 de fevereiro de 2012

Quando o nojo se torna amor: quando Cristo desce ao Inferno para libertar Sísifo

O Ócio de Sísifo de Sandro Chia



O nojo parece um sentimento tão aterrador, mas, a bordo da roleta do cassino da alma, à mercê das probabilidades e dos destinos, o nojo não é o mais absurdo dos sentimentos a emprestar palavra à mudez da vida interior.

O nojo pode ter a face da pena,
Da ira,
Do desprezo,
Do pavor,
Do Preconceito
Da Inveja...

O nojo é bastante democrático ao selecionar suas fontes geradoras. Em qualquer caso, a fórmula do nojo é = distância x tempo. A Física tomou emprestada a equação do nojo e adaptou-a para uma proporcionalidade inversa, utilizando-a para medir a velocidade média ;) Quanto maior a distância, maior o tempo que se consegue ficar sem ter nojo. Para o enojado, a companhia de quem o enoja é um atentado violento ao pudor, quando não, um estupro.

Mas, e quando quem tem nojo descobre que o nojo que sentia era por ter confundido a seta de Cupido com o ferrão do escorpião? Aí, vai ser uma corrida contra o tempo para que o improvável não vire impossível. Pois quem é vítima do nojo, por mais que ame, tem, à espreita, a forte e tentadora presença da mágoa, oferecendo-se para matar a sede que o amor até então não teve competência de fazê-lo.

É difícil convencer uma vítima do nojo de que é amada por seu algoz! É difícil devolver a esperança a Sísifo!

Emprega-se a expressão “trabalho de Sísifo” para designar esforços inúteis. Isto porque o castigo de Sísifo, por sua rebeldia contra os deuses, foi empurrar, durante toda a eternidade, uma pedra em direção ao topo de uma encosta. O detalhe é que, prestes a chegar ao topo, a pedra era rolada ladeira a baixo por uma força misteriosa e irresistível.

Mas, no tempo de Sìsifo, ainda não havia nascido um novo tipo de força misteriosa e irresistível, que chega para inaugurar um nouveau régime.  Esta força é a fé. Ou, melhor dizendo, a fé era um artefato muito rudimentar na época de Sísifo.

Diante da fé, não há esforço inútil, como também não há esforço perfeito. Por isso, Cristo, quando de sua descida ao Inferno, pediu licença aos profetas para que Sísifo fosse o primeiro a ser libertado. Dizem ainda que o pedido feito a Cristo pelo bom ladrão, quando ambos estavam sofrendo a tortura da cruz, foi um eco de um grito de Sísifo por liberdade.

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