24 de agosto de 2025

A história fictícia da menor cidade do mundo, que existe de verdade





Hum é um livro, literalmente, feito de pedra, ou, melhor dizendo, feito à pedra

Pelo escritor e artista gráfico Samir Mesquita.

Não dá pra expor os detalhes do processo de feitura do livro 

Porque a sua materialidade é um dos personagens e revelá-la

Seria dar um imperdoável Spoiler.


Ao ingressar nas páginas de Hum, o leitor é convidado

A experimentar como é viver na menor cidade do mundo:

Uma cidade que, por sinal, existe de verdade e está localizada na Croácia.


Quando o livro foi escrito, Hum tinha 24 habitantes, dos quais

apenas um era criança. Fora isso, toda a narrativa é ficcional, 

Embora seja tão concreta e áspera quanto as realidades atuais, 

Que respiram a ameaça da guerra.


Hum parece colocar em curto-circuito a certeza civilizatória

De que fechando a porta conseguimos tornar impermeáveis fronteiras

Como a fronteira entre vida íntima e vida pública;

A fronteira entre poesia e loucura

E a fronteira entre a criança interior e o adulto exposto

Nas prateleiras da loja das conveniências.


Como acontece com toda obra construída em bases sólidas, 

Pairam sob as páginas de Hum questionamentos que perturbam

A sensação de obviedade e de funcionamento dos sistemas nos quais estamos inseridos.


Lutamos para amadurecer, mas queremos mesmo nos tornar adultos?


Queremos experimentar a dopamina, a aventura e o êxtase, mas

Estamos preparados para flertar com a loucura que se avizinha dessas sensações?


Queremos ser reis e olhar o mundo por cima, mas estamos dispostos

A suportar a reabertura constante das feridas causadas pelas escarpas

Da trajetória de quem aspira chegar ao alto e avante?


Os amantes da poesia vão se sentir numa montanha-russa

Ao embarcar nessa obra, tendo em vista que

Transita vertiginosamente entre a aspereza e a suavidade:

Os dois polos do curto-circuito que constitui o artifício poético.


Hum é uma cidade estranha porque, em sua pequenez,

Parece ser do tamanho do mundo

E nos faz pensar como as grandezas a que tanto almejamos

São capazes de beirar a insignificância.


É uma terra que deseja ser um reino onde

A noite a a impureza sejam incapazes de entrar: e também a guerra

Como se fecha a porta para essas coisas se elas estão dentro de nós?

Não encontrei a resposta a esta pergunta durante a leitura,

Mas achei o desejo de conversar com os questionamentos que foram brotando

Enquanto caminhava pelas ruas feitas de pedra, papel, letras 

E vozes imagéticas veladas, porém nada veludosas, 

Embora o livro tenha um quê 

Da poética simbolista de Cruz e Souza.


Hum é um livro que ao expor nossa inteireza nos parte em dois:

Aquele que chega e o que parte.

Não é um livro que cicatriza dilemas,

Mas nos fere de uma forma inovadora e instigante

Como o fazem a fotografia de um Sebastião Salgado

E o poético lixo de um Vik Muniz.


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12 de junho de 2025

Investindo nudez poética no namoro




Hoje quero investir poesia

Um investimento que sempre é a fundo

Tanto  para achados quanto para perdidos


Aliás (ou elefantes), não me importa ser chamado 

De perdido ou de infante

Se este for o apreço para ver você despido 

De qualquer despedida


Não quero precisar olhar pra nudez de outro

Minha mudez prefere se reencantar

No desconcerto que é alcançar você com 

Tudo

Que em mim faz sol e sentido

Você ajuda meus lás a se tornarem aquis

E os sabe-se-lás a alçarem voo nas asas do agora


Uma festa dá sentido ao meu olhar 

Cada vez que a realidade percebe que você existe

A nudez mais bonita e excitante

É aquela revestida por você


Me ajude a não ter medo de irmos embora um do outro

Sem padre, nem rito,

Quero me casar com você um pouco mais a cada dia

E continuar namorando com você do jeito que só nós sabemos fazer

No nosso namorar cabe morar, orar e [falta de[ ar:

Quem me contou foi Namor, o Príncipe dos Mares


Estou com tanta saudade

Que logo meus versos ficarão tontos

A saudade nos faz ver estrelas sem aplicar nenhum golpe:

Nos galopa


Evolução é um atalho pra reencontrar você

Que substitui os recreios que eu passei sozinho

Por lutas cheias de luas novas


Pra mim, faz toda diferença conversar com os silêncios do meu você


16 de maio de 2025

Sobre o novo e o de novo: usos e significados do prefixo "Re"

 





Chega e meu olhar começa a treinar

Como dizer em alto e bom perfume 

Que a alegria de rever você não precisa ser dita 

Nem medida

Por grandeza ou fome

Medidores não passam de medos e dores aglutinados


Gosto de pensar que você tem uma cópia

Da origem-fim que, disfarçada de chave, abre a porta da distância

Dando tempo ao tempo, até que nossa proximidade chova: sem precipitação


Sinto você prestar atenção no meu silêncio

Espero que tenha notado que até minha dispersão presta atenção em você


A vida tem mais sabor quando seu abraço forte e sem braços 

Revida meu carinho disfarçado de responsabilidade

E o furacão que, vez por outra, inventas de ser,

Também me abraça, domando minhas redomas


Cada reencontro nosso é motivo para meu silêncio orante

Agradecer por a vida não desistir de ser luta que tem como alvo

O horizonte e não a vitória

Você me faz sorrir de alto a baixo,

Rasgando o véu do tempo


Tomara que, se o sono me vencer,

Meu sonho possa tomar a maré entre as mãos

E levá-la onde está seu olhar: farol do qual todo mar tem saudade

Farol que faz sumir a chance de partidas,

Que assume as chegadas

Que disfarça de resumo o amar



Me ensina a saltar sobre os desentendimentos,

Toma de assalto os sobressaltos que, vez por sempre,

Disfarçam-se de coração e batem dentro de um peito

Que treina o autorrespeito


Me ajude a navegar neste novo eu 

Que aceita ser força que se permite questionar

E reverência que não precisa se curvar

Um eu diferente que não se cansa de repetir

O gesto de você reencontrar e, em alguma desmedida,

Reencantar



10 de abril de 2025

Boa viagem ou sobre o acento Trema

 


Peça de campanha desenvolvida pela MultiRio




Como você não pode me expulsar da poesia,

Terá que ouvir, em silêncio, ela encontrar

Formas de dizer que você é o amor da minha vida

Sem que eu sequer saiba o que é o amor, a vida, e, muito menos

Quem você é


Vir me buscar usando aqueles óculos fundo de garrafa é covardia

Desse jeito, como eu não seria amor à primeira vista pela enésima vez

E um gatinho ainda inventou de andar no fio da sua espada

Só pra que você chamasse a atenção dele e a minha

Fiquei perdido, sem saber pra onde olhar:

Se pro gatinho, pra sua espada, pra você ou pra o meu coração,

Que, a esta altura, também era um gato desfilando no fio da espada


Você nem faz ideia de como, a cada viagem sua,

Desejo que a felicidade seja uma fragrância nova em folha

Para cada pétala da Rosa dos Ventos que guia seus passos


Cada baile que lutamos, a festa da minha vida

Arrepia-se dos pés ao firmamento

E a vida da minha festa

Entende as asas

Até o abismo se precipitar e chover

Gotas de orvalho que refrescam

O calor gravado na fronte da minha existência


Até logo

O Espirito Santo conduza meu você, no ir e no devir

Reencontrar você tem sabor de sede matada pela ressurreição

Quero poder cantar pra você uma música de Roberto Carlos

E duas de Erasmo Carlos, porque ele era [e é]

Realmente tremendo


Quero que meu abraço ajude você a não tremer

E seu abraço seja como o Trema: 

Um acento que tentaram banir,

Mas que, mesmo invisível, 

Não pôde ser apagado



3 de abril de 2025

Beijo de línguas

 



Laure Barlet: O Espírito Santo de Pentecostres (2023)


Não tenho culpa se, hoje, você é cada vez mais lindo

De um jeito que ajuda meus problemas a se descobrirem horizonte

Até sua chatice faz o sol nascer pra mim depois que ele encerra o expediente


Quando lanço as redes ao mar,

O amar sempre faz menção a você

Sim, eu quero seus afagos

O carinho da sua proteção sutil

Será um prazer o dia em que o seu colo

Tomar o lugar dos degraus

Enquanto você me levar pra o nosso quarto:

Lua crescente

Rua minguante


As bochechas da sua leitura

Ficaram coradas?

Transfere o calor desse embaraço

Pra todos os pontos fracos do meu corpo

Em forma de beijos de língua

Seus beijos hão de plantar em mim a festa de Pentecostes

É com você que quero seguir de mãos dadas, contemplando todas as fases da Luta













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