Apresentadora Sheherazade no SBT |
Nunca antes na história da comunicação, os silêncios falaram
tão alto. Em círculos íntimos de relacionamento, as pessoas costumavam exercer,
por meio do disse-me-disse, seus dotes de crueldade para com os fantasmas: os
que não estavam ali presentes, nem em espírito nem em verdade, para se opor às
queixas de bastidores.
A fofoca parecia não conhecer o medo e o perigo. Todos e
todas envernizavam as costas dos ausentes com suas impressões mal alinhavadas e
depois continuavam “ tocando em frente” no desfile de máscaras da conveniência.
Este antigo perfil do fenômeno comunicacional parece estar
dando adeus e como todo adeus, que se preze ou não, está atrelado a uma
nostalgia.
Vide o exemplo do Facebook, a pátria dos silêncios com
passaporte para o grito, onde os depoimentos e as imagens conspiram para que
permaneça a sensação de que é possível manter como linha de frente o
politicamente correto (conveniente) resguardando os territórios do silêncio
onde se prolifera o disse-me-disse.
Todos e todas, desde que o mundo é Raimundo, cultivam a
parcela “obscena” da comunicação onde pedem licença para dar vazão, minimante,
a preconceitos. Mas, o que parece estar acontecendo é um sinistro intercâmbio
entre a comunicação obscena (bastidores) e a procênica (palco).
O caso dos professores universitários que despejaram seu preconceito de classe mé(r)dia ao fotografarem um indivíduo no Aeroporto Santos Dumont tem a ver com isto. A gravidade da situação não está propriamente no embate entre o politicamente correto e a fofoca de bastidor, mas sim no esforço das pessoas de construir um canal de comunicação que negue o conflito entre estes dois polos, tentando unidimensionalizar a comunicação.
Em vez de estimular o confronto entre a máscara da conveniência (procênica) e o preconceito (obsceno), busca-se a tentativa fingida de reduzir a interação a uma dessas dimensões.
O caso dos professores universitários que despejaram seu preconceito de classe mé(r)dia ao fotografarem um indivíduo no Aeroporto Santos Dumont tem a ver com isto. A gravidade da situação não está propriamente no embate entre o politicamente correto e a fofoca de bastidor, mas sim no esforço das pessoas de construir um canal de comunicação que negue o conflito entre estes dois polos, tentando unidimensionalizar a comunicação.
Em vez de estimular o confronto entre a máscara da conveniência (procênica) e o preconceito (obsceno), busca-se a tentativa fingida de reduzir a interação a uma dessas dimensões.
Desta forma, as redes sociais (incluindo o diálogo destas
com a Televisão), tornam a comunicação uma ferramenta para edificar o “império
do mal-entendido”.
Neste império, o pouco vira muito e o muito vira pouco. Um curtir no Face, um compartilhamento, uma
citação, qualquer fragmento é ancorado em fofocas de bastidor, em gritos do
silêncio, colaborando para reforçar as estruturas do império do mal-entendido.
Vejamos o exemplo de Raquel Sheherazade, que, em sua
verborragia, dilui as verdades históricas em mil e uma noites de preconceitos
articulados retoricamente. Ao expor o caso do rapaz que foi amarrado e
espancado, Sheherazade cria uma lenda a qual chama de “legítima defesa coletiva”.
Isso em flagrante desconhecimento do Direito Penal, segundo o qual ter usado
exageradamente dos meios necessários para repelir a agressão, constitui excesso
de legítima defesa, ilícito punível.
Tenho dó dos silenciados que, à sombra das mil e uma noites
de Sheerazade, não terão como se defender, a exemplo de James Dean, toscamente
comparado a Justin Bieber. A mesma Sheherazade
esqueceu de incluir entre suas lendas, a realidade da sombria presença de
imaginários remanescentes da ditadura, do coronelismo e da escravidão, que
levaram o rapaz negro a ser algemado de forma análoga à tortura nos pelourinhos.
Reduzir o Direito Humano a uma função estatal: excrescência
de um Positivismo reducionista que mora não só em nossa bandeira, como num tipo
de sombra que habita o coração brasileiro, insistindo em tratar medidas ditatoriais,
medidas de exceção, como sendo prática da Justiça.
Em sua verborragia, Sheherazade, consegue dar uma mão
ilusória de potência argumentativa a fantasmas de tirania alojados no inconsciente
coletivo brasileiro. Assim, acaba reduzindo o repertório das Mil e Uma Noites à
repetição cansada do “Cortem-lhe a cabeça” da Rainha de Copas do “Maravilhoso”
mundo de Alice.
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