Fonte: UOl - A Crítica |
É preciso ser firme até mesmo para desmoronar,
Pois não vai ser nenhum Eu te amo que convencerá a gravidade
A te desabismar ou te descair
Se o abraço que espero dependesse do convencimento,
O calor humano em vez de um troféu ganharia um trofel
E os italianos em vez de dizer sensibile passariam a dizer
sensibílis
Esta noite, vou dormir quase acreditando que a conveniência
é mais forte do que a fé
E que meu segredo nunca deveria ser contado
Pois, exposto, ele rouba o lugar que me estava reservado
Ao lado dos que me amam (quando convém)
O segredo peca ao querer o lugar de Judas à mesa da Ceia
Ou, sei lá, quem sabe, a vaga deixada por algum Imortal da
Academia
Imortal que, diga-se de passagem, morreu.
Tenho chegado atrasado aos encontros marcados com as horas
Mas, a oração do tempo segue com seu açoite
São torturas diversas, de nomes estranhos
Uma delas, de primeira qualidade, chama-se segundo
E passeia sobre meu lombo – os dentes arquivados nos
metatarsos –
Infiltram-se na pele como Marias-Farinhas - devorando
pontualmente
Poro por Poro
Ao sabor das conveniências
Que te deixam à margem obcecando o rio caudaloso do
sonhesperança
Por ele passam as valsas que querias ter dançado
Os beijos que seriam capzes de quebrar o feitiço que transformou
teus lábios
Em um zíper fechado a tristeza
Os abraços que não precisam de abono
Para sentir tua falta
Ah, Maquiavel,
És também navegador?
Responde por que as ondas vão e vêm
Mas a indiferença não sai do lugar
Com suas pernas de cais
Escala-me os silêncios
Até chegar ao lugar mais alto do pódio: o topo do fundo do
abismo
Mas essa tristeza é só por algumas horas, prometo!
Até Maquiavel se despedir
E, cessado o apelo da conveniência que o trouxe chez moi,
Consiga eu acalentar o nojo que meu segredo revelado
Importou, do toque e do olhar dos que me desbuscam,
Para o país da minha inquieta paz
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