16 de setembro de 2016

O desabafo do rio


Fonte da imagem: Gazeta Web


O rio não desiste de correr para o mar para ir atrás de quem quer que seja
Mas, podes pegar um busão e ir atrás dele,
Que, para te rever, é capaz de correr em câmera lenta

Quem sabe, dependendo da tua cantada, ele tope ir descansar no teu leito
E matar a sede nos teus lábios
Ele se ri quando o teu estar vivo aparece diante de seus olhos d’água
Mas, chora quando finges que ele importa menos que um deserto

O rio se encantou por tuas margens tímidas, pela tua sedutora reticência
E quer ensinar tua pele a ser paixão, a experimentar uma correnteza que
Em vez de afogar, prefere perder o fôlego no teu beijo

O rio quer ser o risco de ser amado em segredo por ti
Desde que esse segredo tenha brechas para ir ao cinema
Onde o rio é o filme, o leito a tela e o mar os corações que assistem

O rio sorriu ao te ver dormindo e acordando por uma janela indiscreta
Aberta pelo sonho na repressa da realidade

Tua mão faria a gentileza de se enrioscar com a minha?

Cuidado com os espelhos da vida, 
Mas dos espelhos d'água deste rio não é preciso ter medo
Porque o rio finge que é sério para que não transpareçam as entrelinhas
Que falam de admiração e da ternura

Qual a infração cometida por um rio que, para visitar um tímido navegante,
está disposto a fluir na contramão?




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