4 de setembro de 2016

Lições de Aikido na refilmagem de Ben-Hur



No remake de Ben-Hur, a sequência de cenas em que ele se torna escravo, sendo obrigado ao trabalho forçado nas embarcações de guerra da Roma Antiga, permanece um dos pontos máximos da película. 

O personagem-título pode ser encarado como um praticante de Aikidô avant la lettre,  ao fazer do gesto de remar nas galés uma expressão do Funakogi Undo, um dos movimentos básicos desta arte marcial japonesa. onde mais forte do que a força é a postura correta.

Trazendo a intenção de movimento para o centro de gravidade, e concentrando a energia no quadril, é possível gerar deslocamento com mais eficácia e menos impacto. Isso é meio difícil de entender porque, via de regra, nossa cultura traduz a força como o ato de forçar algo ou alguém a se mover. E, assim, nos acostumamos a encarar os braços e as mãos como principal ferramenta e força motriz.

Porém, uma observação mais acurada revela que a geração do movimento se dá quando as forças disponíveis são canalizadas para um centro (foco) e tecnicamente direcionadas: invenções como a roda e a alavanca não me deixam mentir. 

O Aikido procura na interação entre os corpos o foco e o direcionamento técnico da força. O foco é alguma zona intermediária entre meu corpo e o do parceiro, que deixa de ser encarado como adversário.

Outro momento decisivo de Ben-Hur é a clássica corrida das bigas, onde o personagem coloca em prática outro princípio decisivo do Aikido: a arte de desviar. 

Na Roma Antiga, os corredores procuravam destruir a biga do adversário, a fim de retirá-lo do páreo. Ben-Hur, contrariamente, procura espaços em que possa se infiltrar ou fazer dele mesmo uma espaço, ao desviar da investida do adversário. E assim, a força desferida contra ele quando não o encontrar acaba se voltando contra quem aplicou a força. 

Mas isso fica melhor de entender pra quem assistir ao remake.

Fiquei tão feliz por você
Mas tive receio de demonstrar
E ter a felicidade usada contra mim
Assim como a poesia é usada contra
Quem torna o raciocínio escravo da liberdade

Depois de aprender teu sobrenome, o cinema se convidou
A nos assistir juntos
E dar uma pausa na cena da corrida de bigas de Ben-Hur

É errado pensar que a esperança continua calçando nosso número?
Que o texto acima poderia ter sido escrito a duas mentes, quatro mãos e duas respirações que se entrecruzassem à luz de quatro olhos semi-cerrados?

Posso continuar te chamando de Tell
Enquanto devolvo teu nome ao abraço que o sonho faz de refém?

O filme pediu emprestado nossas mãos dadas
Isto significa que precisamos ensaiar
Talvez você possa me ensinar a dançar no ritmo do segredo

Reconhecido internacionalmente por Wanted (2008) e responsável pelo filme de maior sucesso na história cinematográfica russa, Night Watch (2004), Timur Bekmambetov, diretor do remake de Ben-Hur, parece ser fascinado por efeitos especiais, por histórias de tom épico e por adaptações (Wanted é uma adaptação dos quadrinhos e Ben-Hur uma refilmagem).

Nesta nova versão, Ben-Hur diminuiu pela metade o tempo de duração do original (3,7 horas), de 1959. Isso contribuiu para dinamizar o enredo, onde a participação de Cristo, interpretado por Rodrigo Santoro, foi muito maior. No original, a presença de Cristo era somente sugerida por seus ombros, em duas cenas.

Contudo, não sou capaz de julgar se um filme foi melhor que o outro, embora possa dizer que as atuações do original continuam sendo superiores, principalmente no que diz respeito ao personagem Messala. A exceção fica por conta de Morgan Freeman, que me obriga a adjetivá-lo pela enésima vez como fantástico.



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