13 de setembro de 2013

O fenômeno midiático do enternecimento constrangedor




Jason Mortensen faz cara de espanto ao descobrir que sua mulher é linda. (Foto: Reprodução)

Já falei em outro momento sobre o conceito de constrangimento enternecedor, criado pelo desenhista francês Georges Goursat para descrever como seu amigo Santos Dumont se sentia ao receber homenagens: “enternecido de constrangimento e falta de jeito, ele me pareceu como uma espécie de mártir da glória”, afirma Goursat.

O constrangimento enternecedor tem sido alvo de interesse midiático. Lembremos o rapaz oriental que se tornou viral na Internet graças a um vídeo onde convida músicos “mexicanos” para fazer a trilha sonora de fundo da cena em que pede sua noiva em casamento. Ternamente constrangida, ao vê-lo se declarando de joelhos a seus pés, a jovem toma o violão de um dos músicos e dá um Kboing na cabeça de seu doce e terno “algoz”.

Mais recentemente, um vídeo teve uma explosão viral ao retratar a história de um rapaz que, após cirurgia, perdeu temporariamente a memória. O mote do vídeo foi o espanto dele ao descobrir com quem estava casado. O jovem não acreditou que uma moça tão linda pudesse ser sua esposa.

De alguma forma, este tipo de situação que tem tido grande repercussão midiática aponta para o desejo de achar uma solução para a dificuldade contemporânea de lidar com a ternura e o constrangimento. Estes sentimentos se aproximam num imaginário coletivo onde a desconfiança extremada e o forte medo de vínculos afetivos fazem a ternura ser encarada como algo constrangedor ou risível. 

Uma certa dose de desencantamento diante dos signos de violência, propagados nas mais diversas plataformas simbólicas, também tem contribuído para se criar o mito de que a verdade do ser humano é um misto de brutalidade e indiferença. Nesta perspectiva, a ternura tende a ser interpretada como apego doentio ou como anacronismo inócuo e meramente constrangedor. 

Mas, diante do “constrangimento enternecedor” que se torna alvo da atenção pública, vê-se que na equação que aproxima ternura e constrangimento, o sinal de igualdade que aproxima estes termos não está bem resolvido consigo mesmo. Isto demonstra que a ternura não é coisa do passado e que, para recebê-la, as pessoas estão dispostas a suportar certa dosagem de constrangimento...

Esta postagem é irmã desta aqui.


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