11 de junho de 2013

Pay Marilena Chauí with a Kiss: especulações descompromissadas sobre a classe média




Restaurante  Metro St James lança a campanha Pay with a kiss

“A classe média é uma abominação política, porque é fascista, é uma abominação ética, porque é violenta, e é uma abominação cognitiva, porque é ignorante. Fim".

Este aforismo de Marilena Chauí tem ares de aneurisma temperado com final de roteiro hollywoodiano escrito por criança melindrada. 

Hélio Schwartsman, da Folha de São Paulo, rebateu: “É mais do que conhecida a correlação entre renda e nível de instrução, e uma das principais razões por que mandamos as crianças para a escola é torná-las pessoas mais sábias e esclarecidas.”

Em ambos, foram asfixiados os contornos labirínticos que unem (?) os termos “classe” e “esclarecimento”.

Mal dos iluministas da "tropa" da elite: de pensarem que a educação formal é, por si, sinônimo de classe, assim como a socialite da finada novela Brega e Chique pensava que andar pela feira livre a bordo de um Vison (casaco de pele de urso) a tornava uma pessoa de classe: mais classe tem o urso quando lhe é dada a chance de continuar desfilando na passarela da vida...

Mal dos iluministas pobres que trajam o slogan cansado: “Vivo sem saneamento básico e deixo a vida me levar, mas não desisto nunca!” 

Contudo (e com nada), na arena dos leões – shoppings centers – não há Vison que me faça distinguir um iluminista pela classe.

E a classe média? Atualmente, parece uma incógnita onde buscam refúgio os que não querem tomar partido da riqueza nem da pobreza, como se fossem seres angelicais acima do bem e do mal. “Tomo meus bons 'drink' numa Prada da vida, mas sou da galera” ou “Eu só quero ser feliz na favela onde nasci, desde que a favela não esteja em mim”.

Mas, se por um lado a “classe média” aponta para um refúgio acovardado, por outro continua ostentando o ideal dos revolucionários franceses: o de que é possível ter acesso a igualdade, liberdade e fraternidade, independentemente de se usar toga ou ser um sans-cullote. 

A educação quando resumida a senha para banquete dos privilegiados adquire múltiplas escleroses, uma delas é a de encarar o saber como a sétima marcha de um carro importado: descanso merecido do “guerreiro” que suou às bicas, num pós-doc na França. Entenda-se: há muitos guerreiros que honram o pós-doutoramento. Mas, não é o pós-doutoramento em si que faz a honra, assim como não é o pertencimento a uma classe social que torna uma pessoa esclarecida ou de classe.

Do mesmo modo, não existe um encadeamento natural e inevitável entre ser pobre e ser lutador, como se os filhos que foram criados em condições melhores que os pais estivessem condenados a ser parasitas improdutivos movidos, exclusivamente, à base do Q.I (Quem Indica).

O conhecimento formal é indispensável, mas o esclarecimento, a democracia, a fuga do fascismo que assombra e clama para tomar de assalto a psique humana não são função exclusivamente da educação formal ou do pertencimento a uma classe social. Se fosse assim, a educação formal sequer teria existido, pois foi gestada pela informalidade do conhecimento, como atestam os alquimistas, os mascates, os índios e os filósofos pré-platônicos.

O embrutecimento também pode ser aparelhado pela educação formal (vide os Fascismos). Uma coisa é certa, penso eu: uma das principais graças da educação é a de nos tornar capazes de rever as fronteiras, as hierarquias: de oferecer outras propostas, além da de Dafne, para que possamos percorrer os labirintos da existência.

Pergunto-me se estou sendo deveras classe média se, em vez de discutir este assunto, prefiro tomar um café na Austrália ou se estou sendo pobre demais se aceito a oferta da casa: um café de graça em troca de um beijo: para não deixar o romantismo morrer...

Detalhe: Perguntaram ao dono da cafeteria: "E se os clientes fossem dois homens ou duas mulheres?"
Resposta: "Para o amor não há limites".

Esqueci que não tomo café... Mas, deve rolar um chá.



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