22 de abril de 2013

Cãntico do Antes




Fonte da imagem: + Tattuagem
 Antes


Tu irás me deixar antes de eu dizer
Antes de meu prematuro silêncio ter a chance de nascer em teu colo
E cair de verde da árvore das esperanças?
Antes de tantos antes que esperam por uma passagem de primeira classe
A bordo da clandestinidade, isto é, do teu sorriso?:




Tu vais antes de ajudar meu cansaço de viver a encontrar um amparo onde
Teu abraço me desenvolva com a veste da prata e me envolva com a nudez do ouro?

Tu vais antes de desmentir a ferida do nunca com teu rosto suspeito
Suspeito do crime de beleza triplamente qualificada: pela sisudez, pelo silêncio e pela doçuraranzinzaacanhadaternasubjacentementecalorosaplenilúniataribanianamenteinesquecível?

Tu queres me deixar antes de tirar do relento o beijo que a saudade acolhe um grau abaixo do zero absoluto dos meus dias?
Antes de apagar com tua nobreza as chamas que consomem o iceberg que fez usucapião do meu ser sob a falsa identidade de alma?

Tu partirás antes que teu nome secreto batize minha derradeira lágrima só
E me traga a alegria de vê-la chorada na companhia do ponto cardial que reinventa, em teu peito, 
A rosa dos ventos?
Da tua mansidão não declarada?

Antes de abrires a porta do céu com o bater de tuas asas
Com esse vento que não sopra e faz a chama da minha vida
Arder em tempestade?

Antes de eu deixar de te amar como maior prova de amor que possa de mim partir
Prova que torna a evidência um dividido aceno trêmulo nadando na mecha de uma vela em coma?
E diante dessa mentira grávida de verdade sublimada,
É capaz de que acredites em mim
E diante de tua galhofa,
Tomo consciência de que te amo
Pois com prazer sou rido
Se isso te permite sorrir
De graça sou palhaço
Se os acrobatas puderem fazer ninho em teu sonho
E a criança puder levantar voo em tua realidade


O medo e a timidez têm me represado
Mas, estou certo que
A lua clara de um Debussy abrirá o adeus das feridas
E dele extrairá a chave, isto é, a paz que sinto ao
Sentir a presença de Alguém:
Sonho que nenhuma porta trancada consegue calar.


Claire de lune - Debussy

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