10 de maio de 2016

Poema do terceiro sentido: a audição e a vida curta da flor-gratidão

Hipódromo (França)
Foto: Karla Vidal


Seria muito egoísmo verter o texto do mundo em Libras
Só pra que teu eu distraído possa me dar ouvidos?

Espero que saibas que a paleta de sons do universo traz em seu peito o
Sol como pingente
Envolto pela sinfonia zodiacal, o sol até esquece ser uma lágrima
Plantada numa camisa preta estrelada
Os ventos do varal de Deus sopram, mas esta camisa permanece impassível:
Nada é perfeito...
Tranquilo, porque o marasmo não faz bem ao respirar fundo

A perfeição é uma clave de deserto perdida na partitura de um oásis
Nem Deus gosta de ser perfeito: muda de ideia, faz o sol andar pra trás, assusta vigias de sepulcro...
Pensando bem, ele é perfeito. Porque só alguém perfeito transforma água em vinho de graça

Bem que a flor-estrela, símbolo da gratidão, podia ficar mais algum tempo em tua face
Bem que tua face, gratidão dos símbolos, podia ficar mais algum tempo nas flores-estrela
Beethoven seria capaz de ouvir a dezenas de anos –floriluz as vibrações de bênção e gratidão que trago pra ti

Porque a bênção vem de onde menos esperamos
Ali daquele lugar onde nosso esquecimento fez questão de pendurar uma estalagmite de gelo eterno
Do vácuo que serve de invólucro ao nosso Adeus, ressoa a corda sutil da bênção
Porque toda bênção que se preze é o canto de um anjo anônimo
Sem categoria: pura alegoria

Nas horas mudas, começam a tocar os corações que nossas canções compõem
Se em segredo ou em degredo, não nos cabe decidir
Mas, sempre é possível descair em si,
Sempre resta um Acorde surpresa, lá onde se pensava que o sono era eterno

Acorde capaz de reescrever, em sol maior, o dado por perdido
Com notas de reencontro
Nada mais de pena ou dó

E, por mais que ame,
O lufar do vento cultivará aquela indecisão gostosa:
Sopro sobre teu rosto o carinho da aragem
Ou prendo o fôlego para não desembalar o silêncio que recobre o teu dormir?

Teu toque é maestro do meu pulso
E quando passa perfume em minha têmpora
Os relógios se derretem
Nenhum salvador, dali ou de onde quer que seja,
Poderá surrealizar este fato

A audição é o único dos sentidos capaz de desmentir as distâncias e as barreiras

E como é adorável aquele teu olhar 89, capaz de deixar qualquer Berlim de muro caidinho

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...