26 de maio de 2016

Corpus Christi como manifesto antiestupro e anti-homofobia

Fonte da imagem: Wikitemas


No dia de Corpus Christi, não posso deixar de pensar que o corpo de Cristo é corpo das mulheres e dos homens, sem discriminação: “Tomai e comei todos vós”.

Cristo, sendo homem e pertencendo a uma sociedade em que os corpos femininos eram considerados propriedade dos homens, oferece a si mesmo como alimento e mostra que o que faz de um homem um homem é sua humanidade e não o fato de ele “comer” mulheres.

Ele dignificou uma mulher considerada adúltera, mostrando que os corpos pertencem exclusivamente a nossas próprias consciências. Também dignificou uma mulher que era considerada impura e intocável por ter um grave problema no seu fluxo menstrual. Mostrou que o ser mulher não pode ser reduzido ao pobre conceito de pureza nutrido pelo machismo absurdo.

A ação de Cristo escancara as raízes podres de um abjeto ideal de pureza, entendido como senha de acesso ao corpo feminino. A mulher considerada impura seria, nessa perspectiva, “naturalmente” sujeita à violência sexual, tanto de ordem física quanto psíquica. Por este motivo, a violência sexual é comumente acompanhada do gesto ignóbil de expor publicamente a vítima.

Jesus se dá como alimento também aos homens, derrubando, com a simbologia de seu gesto, a sanha homofóbica que assola a humanidade desde o princípio. Um homem que penetra outros, na simbologia eucarística, redimindo o terror sofrido pelos homossexuais, vitimados, na mais branda das hipóteses pelo nojo, quando não são objeto de pilhéria e tortura, como o foi o próprio Cristo.

Quando Jesus Cristo se dá, na Eucaristia, entregando-se em corpo, sangue e espírito, ele estabelece a nova e eterna aliança entre os seres humanos e Deus. E faz não caber nesta nova e eterna aliança os valores esclerosados relacionados às fronteiras covardes e preconceituosas erguidas entre o corpo do homem e da mulher, assim como entre o corpo de um homem e outro, de uma mulher e outra.

A nova e eterna aliança não admite que o corpo feminino seja invadido pela fronteira de uma sexualidade machista e distorcida. Na hora da descida do Espírito Santo, estavam reunidos juntos, em pé de equidade, homens e mulheres, recebendo equitativamente os dons espirituais e a potência de marcarem sua presença no mundo por meio do discurso. A comunhão não é só representação da vida em comum, mas um manifesto contrário ao terror de uma sociedade que relaciona homens e mulheres como se aqueles fossem "o invasor" e estas "a presa". A comunhão representa o êxtase da equidade entre os corpos e a alforria de seus diferentes enlaces sejam heterossexuais ou homossexuais.

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