Olho de rosa - Foto by Marcelo Lacerda |
A visão é um sentido atípico
Fala sem som e sem palavra
Toca sem mãos e envolve sem abraço
Ouve sem tímpano, fere sem martelo, desequilibra sem labirinto
Pinta as mais sonoras explosões até mesmo na moldura do vácuo
Os olhos comem: um apetite cego
A visão só não consegue cheirar
Porque ficaria difícil para a microscopia desvendar o aroma
intramolecular
A visão invade a privacidade do futuro e ilude o presente,
Fazendo-o crer que este exato minuto é soberano
Mas, apesar desse jeito de usurpadora, a visão ensina
Que nenhum sentido é autossuficiente
Ou capaz de exercer monopólio sobre o amor
Não existe amor feito só de visão, audição, olfato, paladar
ou tato
Em parte o amor é todos os sentidos,
Em parte um sentido indefinível
Em parte um sentido indefinível
Em parte é total cegueira, surdez, desgosto
E sempre uma demão de falta de tato
É a precognição que se esconde em todo perfume
Deixa de lado as metáforas cansadas que buscam fazer dos
sentidos prisões
Olha-me e deixa-me te olhar sem que precisemos deixar de ser
companheiros
Não tenha medo de que um Eu te amo me ancore à porta de
entrada dos teus sonhos
Ou vista teus projetos de rua-sem-saída
É possível olhar com olhos de eternidade e depois seguir em
frente como amigos em cores
Tornando desnecessário o Nunca Mais.
Esplêndida prosa poética, exalta o ponto de partida da curiosidade,
ResponderExcluirdepois atiça o dom imaginativo, criando ao fim um poeta entregue
aos sentimentos. Felicidades. Inês Marucci
Inês, o seu comentário dignifica não só este poema, mas todos os que já escrevi. E o esforço dignificado é o maior combustível para o coração de um poeta. Abraços de Cláudio Clécio :)
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